sábado, dezembro 13, 2008

round here









encontro amigos.

reencontro-me
neles.

no que somos
nós.


abro meu olhar
e sou-me eu,
aqui.
sem o medo,
a solidão
- estátuas de água que desenho e habito...


estendo mãos,
encontro abraços.


sorrio fora
e é dentro que me marulha a vida.


em embalo de ternura
e gente de olhos que me dançam mar.
em força
nudez
coragem.




.






partilho meus marulhos com quem me é maré que enche.
e vaza.
e é vida
de sentir.











em tudo a partilha da verdade.

os sorrisos.

as mãos.

os olhos.

as lágrimas de dor imensa que em mim tatuam uma outra vida.
dentro.
em certeza de sangue.

de ser.


sermos
juntos.

em passo de pôr-do-sol
e floresta.
por lagos
e por risos
e por nós

e ser-nos tudo
esse tanto
de dar.


sem pressa.


tão devagar....


um só
nada
a medo.





até à praia nova
desta gente
que me encontra
me encanta
me descobre.
















..


















(e dizem
dizem
que é isso a vida...)






sábado, novembro 08, 2008

perto, em aniversário








" felicidade se acha
é em horinhas de descuido. "


(guimarães rosa)











...







minha mãe amanheceu-me no mar
e plantou-me em terra de amor.



(fazia já tanto tempo que aqui não era este dia,
tantos já os abraços distantes, inventados, adiados...)



tudo o que sou tremeu de vida,
e em cada mão apertada reconheci,
acarinhei,
embalei.

e.



(menina pequena de novo
em sonho e despertar,
fui rosa, ovelha, planeta
- segredo e(m) alma de cativar.)



o sol marulhou-nos o dia,
pintado a memória e riso.


à beira de um lago, em verdade de água e outono,
sorrimos às côres do ser.



e fomos.


somos.


para além de tempestades secretas,
medos escondidos,
tristezas a sós.



somos

este amor de força,

este mar de vida,

este tudo de nós.


















...










(tanto) obrigada, gente de mim...

@-,-'-


segunda-feira, outubro 20, 2008

"ad astra"







assim me chamas de minha concha...









assim me trazes às palavras,
com este presente de tanto
nas asas do sentir,

em que


"se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc., que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à web.

quem recebe o “prémio dardos” e o aceita deve seguir algumas regras:


1. - exibir a distinta imagem;

2. - linkar o blog pelo qual recebeu o prémio;

3. - escolher quinze outros blogs a que entregar o prémio dardos. "





pelo tanto de sentir que me sempre trazem,

o meu obrigada a:


- 8ª edição

- a clareira

- a menina dos olhos de água

- casa de maio

- digit@l pixel

- linha de cabotagem

- lupanar do pensamento

- o farol no vento do norte

- olhares em tons de maresia

- ortografia do olhar

- pequenos nadas

- passages

- stella nijinsky

- tufa tau

- vida de vidro







porque muito
e dentro
há tanto
de tempo.





...









sexta-feira, setembro 19, 2008

"pai"




"i miss you

i guess that i should"


(counting crows, raining in baltimore)





..



morning becomes dark and empty

as i wake up to the day

to find the scratched hands and words

that have lost you along the way



would you have stayed if i'd dreamt harder?

could you have had another try?


in dreams reality is kind

and pain no more than a sigh





..













today only i will be a child

with no possible time-lapse

no shame or masked fears




- i miss you always beyond this silence


this trail of memories


this blood of tears
















...








("day comes up sicker than a cat
something's wrong that is that

mr. somewhere missing somewhere
never did figure just how much


a boat from the river takes you out
'cross the other side of town, to get out, to get out
you take the tide, any tide, any tide
like there isn't gonna be any tide

mr. somewhere missing somewhere
never did figure just how much

missing somewhere
never did figure just how much


a world like tomorrow wears things out
it's hard enough to get what's yours for now
and the hardest words are spoken softly
softly look, no hands upon

nr. somewhere missing somewhere
never did figure just how much

missing somewhere
never did figure just how much


now the milkman beats you to the door
that was once a home, home no more

mr. somewhere, missing somewhere
couldn't get the calendar to stop

missing somewhere,
never did figure just how much

missing somewhere,
never will admit just how much ")









..











(imagem de ana nicolau, @ musée du louvre)

sexta-feira, setembro 05, 2008

(n)a dor de alice











.

suicide watch
is an intensive monitoring process used to ensure that an individual does not commit suicide.

.









..











eu estava sentada a seu lado, um lugar de sofá no meio das duas, a minha mão a transpô-lo, pousada sobre o seu ombro, fazendo festas até onde chegavam meus dedos, querendo quase entrar por sua pele para chegar dentro, fundo onde lhe gritavam as vozes que não ouvia eu, que não ouvia ninguém senão ela, que lhe ensurdeciam o falar e lhe emudeciam o ouvir;
e por isso o toque, o tentar do toque, o toque desesperado por chegar dentro, dentro até que minhas mãos tapassem a boca a essas vozes injustas e mentirosas que empurravam aquela alice de cabelo de fogo para o buraco mais fundo de si,
longe de tudo,
de todos,
longe de tudo o que é
vida
na vida.



















" you see..




i wasn't supposed to be alive by friday......"
























disse-mo em murmúrio,

como quem fala do que é certo,

sem caminho de regresso.





um segredo que me confiava como quem confia tudo.






















e eu tive vertigens de sua morte planeada.



































...








falava-me por entre os soluços que lhe rasgavam o respirar,
sem nada mais que não o negro da côr imensa de si, esse escuro de facas afiadas e comprimidos engolidos por anos de injustiça, desamor, desconsolo.


e eu pensei
pensei
que não é justo.


a balança a tornar-se mais e mais desigual a cada dia
e nós sem saber, sem saber o peso de cada hora.

o peso de não saber-se de si.

de perder-se,
deixar de ser-se
esse tudo
que se é.


e tão fácil, a queda.....












frente a meus olhos caía, e eu sabia que ela caía de olhos fechados, cerrados como punhos, e assim se deixava ir, sem responder a ninguém, sem levantar a cabeça para olhar-nos, já, sequer, nada de si senão aquele corpo de menina por si mesma abandonada e aquele choro angustiante, sufocante, sumido,
a contaminar-me o sangue de tristeza e revolta.


inadmissivel não pegar nas mãos de quem nelas segura seu próprio presente e levantá-las até que veja, saiba, sinta tudo o que é, pode ser, sempre, a cada dia, cada minuto, ainda, sempre, a vida.


querer abaná-la e dizer pára, pára as vozes, pára tudo o que te atormenta, mergulha para fora de ti se preciso for que te agarramos, nós agarramos-te,
só não vás.
não assim.
não antes de tanto de ti.


mas ela menina, enrolada em si mesma,
pequenina pequenina,
pequenina de medo e tão adulta de dor...




medo de quebrá-la, quase...
cuidar como se,
porque,
pássaro de asas partidas.
alimentar.
ser guarida.
dar descanso.
sem paredes brancas, médicos ou vozes estranhas.
sem o medo de nada.
sem o nada lá fora.
sem curso de nada para além do sentir.
nada senão cada momento.
agora.



na quietude da noite dormiu como quem se entrega ao descanso dos braços de uma casa, amigo, porto de abrigo.

na luz meiga do dia pegou-me pela mão e levou-me por seu labirinto de árvores entrelaçadas em nós enferrujados de memórias escuras e flores murchas de seu próprio abandono,
e pelo enevoado do medo consegui ver que olhava ainda para cá.
para nós.
dentro.
olhava.


falei-lhe das luzes que alumiam o dia,
das velas que se apagam para que possa vir a noite que descansa, apazigua, ameniza, serena...


deixa que venha a noite, serena.

que te seja sereno o dia.

todos os dias.

deixa...











o que se pensa é só isso,


um pensar.







a vida toda é um pôr-do-sol




uma mão dada no escuro




o mar.














..










(imagem de john tenniel)

sexta-feira, agosto 15, 2008

(meu) país de gente e mar










" Tudo me prende à terra onde me dei:
o rio subitamente adolescente,
a luz tropeçando nas esquinas,
as areias onde ardi impaciente.


Tudo me prende do mesmo triste amor
que há em saber que a vida pouco dura,
e nela ponho a esperança e o calor
de uns dedos com restos de ternura.


Dizem que há outros céus e outras luas
e outros olhos densos de alegria,
mas eu sou destas casas, destas ruas,
deste amor a escorrer melancolia. "


(eugénio de andrade, canção breve)

















...











vejo o caminho.





sei-o inteiro, e sei onde vai dar.



a que mar de terra e gente minhas.








medo da vergonha?


vergonha do medo?






o mesmo tremer do frio de entrar no mar
- a vida toda em desejo suspenso
no tempo esperado de meu mergulhar.





mais que rainhas e príncipes
trago na mala as fadas que me sabem as asas
em certeza, dignidade de sentir.



sou todos os que enterrei,
todos os que em mim nasceram
- tatuadas sementes de meu chegar e partir.








.










ouço(-me) no vento.


como se meu o nome que alguém.



como um chamar sonho à vida
que ninguém mais
ninguém mais
tem.
























...














agora,

longe e perto,

tenta-se a humildade:














vive-se.
















.
















(imagem primeira: ana nicolau, autoretrato2007
imagem segunda: eduardo gageiro
imagem última: haleh bryan, dani-blue)



sexta-feira, agosto 01, 2008

" do outro lado do espelho "








" i know who i was when i got up this morning,
but i think i must have been changed several times since then. "




(lewis carroll, alice's adventures in wonderland)






...















" A criança fecha os olhos no muro
Conta o tempo que os amigos demoram
A transformar-se

Fecha os olhos no interior dos números
Olha para dentro e em redor e encontra-se
A si mesma
A criança pergunta se há-de ir ter consigo

Ela quer encontrar os amigos, ela quer
Que lhe respondam. Ela calcula a voz alta
A altura do muro, a progressão do silêncio "


(daniel faria)






..




ruela, marulhos
















(...)



if you knew that love can break your heart
when you're down so low you cannot fall
would you change?

would you change?






how bad, how good does it need to get?

how many losses? how much regret?

what chain reaction would cause an effect?

[that] makes you turn around,

[that] makes you try to explain,

[that] makes you forgive and forget,

[that] makes you change?









makes you change














if you knew that you would be alone,
knowing right, being wrong,
would you change?

would you change?











if you knew that you would find a truth
that brings up pain that can't be soothed
would you change?

would you change?






how bad, how good does it need to get?

how many losses? how much regret?

what chain reaction would cause an effect?

[that] makes you turn around,

[that] makes you try to explain,

[that] makes you forgive and forget,

[that] makes you change?









makes you change















are you so upright you can't be bent
if it comes to blows?


are you so sure you won't be crawling?


if not for the good, why risk falling?


why risk falling?











if everything you think you know,
makes your life unbearable,
would you change?

would you change?










if you'd broken every rule and vow,
and hard times come to bring you down,
would you change?

would you change?






(...)














..













...













the end is not near, haleh bryan











.













(imagem primeira: sue blackwell, alice through the looking glass
imagem quinta: thespeak, thinking
imagem nona: lachlan humphreys, change
restantes imagens: haleh bryan
música e letra: tracy chapman, change)

quinta-feira, julho 03, 2008

"'m ta dançóbe no ar "*






















" el cómplice




me crucifican y yo debo ser la cruz y los clavos.


me tienden la copa y yo debo ser la cicuta.


me engañan y yo debo ser la mentira.


me incendian y yo debo ser el infierno.


debo alabar y agradecer cada instante del tiempo.


mi alimento es todas las cosas.


el peso preciso del universo, la humillación, el júbilo.


debo justificar lo que me hiere.


no importa mi ventura o mi desventura.


soy el poeta. "



(jorge luis borges)





..















...







adormeço

pauso

pouso

o mundo todo

que não sou eu:




volto à poesia de minha terra,


cúmplice dança em alma de mim.















..













(imagem primeira: dolce vita, de robert wojtowicz
imagem segunda e imagem última de ana nicolau)
























(*"eu dançarei no ar")


quarta-feira, junho 25, 2008

"the power of now"






" menino doido, olhei em roda, e vi-me
fechado e só na grande sala escura.
(abrir a porta, além de ser um crime,
era impossível para a minha altura...)

como passar o tempo?... e diverti-me
desta maneira trágica e segura:
pegando em mim, rasguei-me, abri, parti-me,
desfiz trapos, arames, serradura...

ah, meu menino histérico e precoce!
tu, sim! que tens mãos trágicas de posse,
e tens a inquietação da Descoberta!

o menino, por fim, tombou cansado;
o seu boneco aí jaz esfarelado...
e eu acho, nem sei como, a porta aberta! "*

















..






sei-me quem sou.


liberto-me.













assim.












..










(*"libertação", de josé régio
"do amor que não (imagens de um sentir)": fotografias nomeadas com/por seus autores no slideshow
frase última de cecília meireles)



























(" aprendi com a primavera a deixar-me cortar,
para poder voltar sempre inteira. ")


quarta-feira, junho 18, 2008

self-reminder (in advance)










" paston common, 5.maio.08 - "livre balanço"



a mim me trouxe aqui.
foram sete, já quase sete anos, de emoções que baralham, confortam, seguram, baralham, levam avante, carregam, fazem temer, seguram, baralham, seguram, baralham.
que aqui me trouxeram, em mim. com(o) a vontade de mais.


.




é lindíssimo, este momento de tempo em que estou. esta vida que vivo agora.
de acreditar, saber, o que. que sou feliz. sou (já) feliz. por muito e tanto. por tudo o que é em mim.



(it's beautiful here, this moment in time.
as i close my eyes, the birds lull me to the truth in me:
i am part of nature.
i
am the birds.
i am the trees.
i am the sea.)




vivo a vida que sei.
a que me trouxe eu.
que abro os olhos e conquisto e recebo
o que é, por vontade, meu. "












..








(imagem primeira:do you believe it in your head, de michael vesen
imagem segunda: integration of the soul.
de autor desconhecido,
sadly..)

quinta-feira, junho 12, 2008

366 dias












" onde estás, pai, que me deixaste só a gritar onde estás? na angústia, preciso ouvir, preciso que me estendas a mão. e nunca mais nunca mais. pai. dorme, pequenino, que foste tanto. e espeta-se-me no peito nunca mais te poder ouvir ver tocar. pai, onde estiveres, dorme agora. menino. eras um pouco muito de mim. descansa, pai. ficou o teu sorriso no que não esqueço, ficaste todo em mim. pai. nunca esquecerei. " *







(ascending angel, kira perov**)











..












(* josé luis peixoto, in "morreste-me"
**da instalação five angels for the millennium, de bill viola)

terça-feira, junho 03, 2008



" amor, vi morrer a flor.
eu que trago água nos pulmões.

*

o vento ousa nos teus cabelos,
esforço-me por segurar a última folha. "

(paulo josé miranda)


































(haleh bryan, full moon)









..






deixei-te falar por entre o incenso da mágoa,
cada minuto uma nuvem,
cada palavra a cegar-nos o céu de olhar

- a vida presente a escolher ser livre,
o toque do tempo o verdadeiro amar.




lá longe onde lutas a vida,
o passado não te é raiz de pensar
de pesar
de não ser nunca mais pele o respirar.




...





e então falei-te
devagar
sem nada dizer.


ouvi cada bocadinho de céu,
de olhos fechados e não,
e disse-te


" há nuvens.


há nuvens
mas não há-de chover. "


.



olhei cada palavra tua nos olhos
com a paz inquieta que me trouxe o saber, saber,
para além das noites que te sonham ainda,
que nunca, nunca haverá um espaço
um tempo
um querer
de nós.


a chuva deixou há muito de molhar-nos desejo ou lábios
- não há já
nem mesmo na chuva
esperança ou verdade
para um nosso amor.

e no entanto,
no entanto,
a dor-verdade, ainda, na alma da memória tua...

o coração que se encolhe a cada palavra,
o respirar que me aperta contra minha vontade,
contra a tua,
contra a de toda essa gente
que não esquece.

porque se não esquece
afinal.

nem mesmo quando.


.




ouço-te
assim
(em) meu adeus.


parto
eu
"antes mesmo
de partires".


parto nas tuas palavras
sem que o saibas
sem que o notes
sem que me sintas partir.


pelo muito
que há tanto
deixaste de saber em mim.





..











e chove.


afinal chove...


como quem lava novos caminhos.



































..




(" one two three four
tell me that you love me more
sleepless long nights
that is who my youth was for

old teenage hopes are alive at your door
left you with nothing but they want some more

oh, you're changing your heart
oh, you know who you are

sweetheart bitterheart now i can tell you apart
cosy and cold, put the horse before the cart

those teenage hopes who have tears in their eyes
too scared to own up to one little lie

oh, you're changing your heart
oh, you know who you are

one, two, three, four, five, six, nine or ten
money can't buy you back the love that you had
then


..


one, two, three, four, five, six, nine or ten
money can't buy you back the love that you had
then

oh, you're changing your heart
oh, you know who you are
oh, you're changing your heart
oh, you know who you are
oh, who you are

for the teenage boys
they're breaking your heart
for the teenage boys
they're breaking your heart ")


quarta-feira, maio 21, 2008

nos três anos destes marulhos...




um só humilde obrigada a todos vocês
que me lêem,
me partilham o viver.


convosco,
sigo a crescer.


em vossas palavras,
o cheiro a maresia
do sentir.


..



do ser.

















obrigada.


(for) so much more than you'd imagine...














(e a todos de quem não tenho imagens, e todos os outros que me lêem, me sentem, me guardam em si, em força e silêncio. @-,-'-)

segunda-feira, maio 19, 2008

(d)escrita(,) despida
















(leaving the storm behind, haleh bryan)






em blog de gente (des)conhecida que (me) escreve e emociona o viver,
"comento" em continuar de sentir,
como se minhas também as palavras suas.

que leio devagar,
cada palavra calcando,
marejando de olhar e saudade,
toda a memória vivida
- esse imenso não-futuro que me algema à verdade.




..



"comento".
como se personagem de seu sentir, também, eu.
tão e só.
nada mais.
nada de mim.





























(mistakes, haleh bryan)









.....








mas as palavras que desenho escrevem quem sou
com a azul precisão de quem marulha um choro.


sem minha própria intenção.


eu que seguro ainda
- sem qualquer um enrolar de regresso -
meu novelo de pontas tantas de sentir.






em nenhuma delas o inventar a côr
no bordar de um berço de paz.

em nenhum momento
o sonho ou desejo
de chorar um caminho,
remar sobre a dor,
voltar atrás.




..






e ainda assim

as palavras,


vestígio(s) de enlace de pele:


















é onde que mergulho de novo
fundo
nos teus olhos?
























parece que me afogo...













































(after never, haleh bryan)


segunda-feira, maio 12, 2008

(in (between) life and dreams)








" so runs my dream, but what am i?

an infant crying in the night

an infant crying for the light

and with no language but a cry. "



(do poema "in memoriam a.h.h.", de alfred lord tennyson)






































...








guardo preso
engasgado
em luto de lembrança

o peso timbrado da vida doente
- essa toda irrealidade
de teus momentos finais
































...









assombra-me a saudade.











sufoca-me

o nunca mais.





















(imagem primeira: youth mourning, george clausen
imagem última:death in the the sickroom, edvard munch)


domingo, maio 04, 2008

a minha avó, em dia de mãe(s)





é dia de mães em minha terra de mar....



dia de sentir.

de ser menina e olhar para ela.
de ser mulher e por ela olhar.






..






e eu já descobri, sabes?
nesta distante lonjura em que és tanto parte do que sou a cada dia, cada desafio, cada conquista de mim, eu descobri já, avó
- eu descobri já quem sou.

e sei agora quem me é.
quem me vive no sangue.
em verdade.
com verdade.
(para) sempre.


sei saber por fim a força da família, nossa família, nossa coragem de justiça e carinho
- essa tribo de apoio e sentir
e de mães tantas
que não só de seus filhos.

sabes?.....

sim, tu sabes.
tu sabes mais ainda agora do que o tanto que soubeste sempre.

e sabes tudo de mim.


como cresci, eu.........


fiz-me mulher, avó.

aqui cheguei menina
e daqui saio mulher.


e agora, agora, assim nos reconhecemos.
eu e ela.
eu e tua filha.
eu e minha mãe.
em amor, camaradagem, amizade.


ela, sim, que é grande.
enorme.

tanto que se torna pequena para deixar passar a felicidade de quem.

tanto que me não embala o choro;
minha mãe não me embala o choro que é sofrer teimoso...

..


combate-o.

minha mãe luta meus sentimentos por mim.

até me chegar a força que sou - que vem de ti, e dela, e de minha mãe de céu, e de, e de, e de.... -, minha mãe é quem me enfrenta o sofrer.

quando de novo me levanto, abraça-me e deixa-me ir.
não me costura as asas, não me lambe as feridas, não limpa meus olhos de lágrimas maquilhados.

minha mãe faz-me sentir as raízes que me não abandonam e me não prendem nunca e solta-me ao vento.
para que aprenda por mim o fundo das alturas.
para que em mim saiba - seus olhos seguindo-me sempre de longe - que a felicidade minha tem de merecer-me tanto quanto eu a ela.


e abraça-me sempre, minha mãe.
em respeito de sentir.
sem julgamento ou prisão.

neste longe de toque,
abraça-me minha mãe para além do que a não faço saber.






por isso hoje, hoje sobre_tudo, aqui na distância de seu celebrar, esta vontade de estar perto, chegar mais, dizer, fazer saber a essa Mulher que me é raízes e asas, me é exemplo (d)e amizade, me é força e vida de tanto, dizer-lhe,
dizer-lhe com(o) eugénio,

" mãe,
eu não me esqueci de nada."



...




vivo as memórias
guardo o exemplo
sou a força que é ela em mim
quando lá
quando aqui
quando no mundo que for que me habita.











...






é dia de mães em minha terra de mar...



sem longe.
sem longe nenhum.



contigo
também
e sempre
em mim.















(imagem primeira: lord leighton,
mother and child
imagem segunda: lord leighton,
mother and child (detalhe)
imagem terceira: jean jansem,
mère et enfanf
imagem última: pablo picasso,
mère et enfant)

segunda-feira, abril 28, 2008

regresso







" avião lisboa-londres, 27.abril.08



parto de novo.



vejo de cima a terra que amo tornar-se pequenina, mais e mais, até me caber na palma dos olhos, ser não mais que essa lembrança que me marca o ser(-me), força de gente e sentir, causa e recusa de inconstante chorar.



há caminhos desenhados lá em baixo. caminhos desejados que levam onde quis, soube querer, em sonho e vida, um qualquer outro (de) nós.
que sonhamos, podemos, queremos.
mesmo se, quando, às vezes também porque, esquecemos:
somos sempre o que em nós próprios traçamos.





abril trouxe-me a força da vontade.


as papoilas de meu alentejo cantaram-me de côr a vida.


os amigos que família, família que amigos, marulharam-me o tudo que sou.



e eu sei
eu sei
que tudo é querer.



acordo-me dentro do sonho
e desafio-me a escolher:


ganhar asas?
voar para casa?




...





- ser humilde.



viver. "


















...







" let me fall,
let me climb,
there's a moment when fear and dreams must collide

someone i am is waiting for courage,
the one i want,
the one i will become will catch me

so let me fall
if i must fall,
i won't heed your warnings,
i won't hear them

all i ask,
all i need,
let me open whichever door i might open

let me fall,
and if i fall
all the feelings may or may not die

i will dance so freely,
holding onto to no one,
you can hold me only if you too will fall,
away from all
these useless fears and chains.

someone i am is waiting for my courage,
the one i want,
the one i will become will catch me

so let me fall
if i must fall,
i won't heed your warnings,
i won't hear

let me fall,
and if i fall
- there's no reason to miss this one chance,
this perfect moment -,
just let me fall. "








..






(com um abraço
forte
de tanto
à cláudia,
amiga de tudo,
que me amparou a queda de angústia
nesta terra de saudade
e me sempre lembra as asas
as alturas
a gana
de meu voar em liberdade.)
















..








(imagens, música e poema retirados do espectáculo quidam, pelo "cirque du soleil")

sexta-feira, abril 25, 2008

SEMPRE.









a poesia





o povo






a justiça







a liberdade





(vieira da silva)


















(como para sempre
hoje
a lembrança
a saudade
o orgulho
de meu pai.)

sábado, abril 19, 2008

(em) mudança



por esta janela que me abre (a)o escrever
vejo e sinto os passáros que a meu lado voam.
comigo.
eu neles.



nessa outra, onde adormeço em estrelas e acordo na côr do dia, o canto de gaivotas trouxe-me já o mar em sorriso de acordar. o mar que provo também nos olhos quando mergulho em todas as memórias que solto neste espaço novo, algumas tão longe dos dias de hoje, fechadas nestes quadrados guardiões dessa vida a que regresso agora, só agora, um ano e meio depois, todo este tempo trancados para que a mim encontrasse, finalmente, eu, no que sou e sinto e vivo.
sem nada mais.
e tanto, afinal....



abro cada caixote como quem volta ao passado.


volto.



abro fundo esse tempo de antes
e nele passeio
sem rede ou volta marcada.









mas regresso sempre.
regresso sempre a quem sou.

para além do que é não-saber.




















vivo (n)a vida.





deixo que me viva.









sou e respiro o que voa (n)o tempo.



o que me trago
eu
nele.







(dreaming about wings, bogdan zwir)










..







" (...) não pensemos mais: esta é a casa:

tudo o que lhe falta será azul,

agora só precisa de florir.

e isso é trabalho da primavera. "


(pablo neruda)















(nesta casa nova de mim,
é tão forte às vezes o vento nas janelas...

e é só

um segundo andar..



....



mas é bonito.

às vezes lembra-me a noite do mar.




como se perto da praia,
quando fecho os olhos
e respiro em mim seu marulhar.)











( " eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome
- cores de almodovar, cores de frida kahlo,
cores...

passeio pelo escuro
- eu presto muita atenção no que meu irmão ouve;
e como uma segunda pele, um calo, uma casca, uma cápsula protetora

- ah, eu quero chegar antes...
pra sinalizar o estar de cada coisa,
filtrar seus graus

eu ando pelo mundo divertindo gente,
chorando ao telefone..
e vendo doer a fome dos meninos que têm fome


pela janela do quarto, pela janela do carro,
pela tela, pela janela,
quem é ela, quem é ela?
- eu vejo tudo enquadrado,
remoto controle....


eu ando pelo mundo
e os automóveis correm para quê?
as crianças correm para onde?

transito entre dois lados
de um lado
eu gosto de opostos...
exponho o meu modo,
me mostro


- eu canto para quem?





pela janela do quarto, pela janela do carro,
pela tela, pela janela,
quem é ela, quem é ela?
- eu vejo tudo enquadrado,
remoto controle....


eu ando pelo mundo
e meus amigos....
cadê?
minha alegria, meu cansaço?..

meu amor cadê você?
eu acordei
- não tem ninguém
ao lado


pela janela do quarto, pela janela do carro,
pela tela, pela janela,
quem é ela, quem é ela?
- eu vejo tudo enquadrado,
remoto controle....


eu ando pelo mundo
e meus amigos....
cadê?
minha alegria, meu cansaço?..

meu amor cadê você?
eu acordei
- não tem ninguém
ao lado


pela janela do quarto, pela janela do carro,
pela tela, pela janela,
quem é ela, quem é ela?
- eu vejo tudo enquadrado,
remoto controle.... " )




















desenquadro.


desprendo.


desenlaço.












me.























.












agora


agora

volto


ao abraço do sorriso

à magia da infância

ao viver (d)o mar









regresso(-me) à terra de mim

para beber o abril

que me é côr de voar

















(imagem de autor desconhecido. sadly.)