saías de uma casa onde eu estava também.
choravas.
não me vias
- talvez a ninguém -
e choravas.
como que perdido.
menino, de novo.
como quando.
e falavas sozinho.
que tua mãe te tinha dito
antes de morreres
- como se vida, ela, embora então
eu depois vou buscar-te a uma lua qualquer.
...
logo a seguir o alarme acordou-me do sonho
e o choro brusco da presença de ti.
(the girl comprehending infinity on a red chair, de bogdan zwir)
...
a rita foi a primeira.
a descoberta de uma nova dimensão de sentir
que nunca antes.
graças a ela
acredito
a avó que era luz de mãe viveu mais a alegria em seu tempo de fim.
depois veio o diogo
- o primeiro rapaz.
graças a ele
(com a rita)
acredito
vivemos mais serenamente a saudade de minha avó.
a sara veio quando o pesadelo estava para começar.
de verdade.
em verdade.
graças a ela
(com o diogo
e a rita)
acredito
viveu nosso missing man, também, tão mais do que se não.
por eles, os últimos
mais fundos
sorrisos.
...
" a brand new baby was born yesterday
just in time
papa cried, baby cried
said "your tears are like mine"
i heard some words
from a friend on the phone
that didn't sound so good
the doctor gave him two weeks to live
- i'd give him more
if i could
you know that i would now
if only i could
you know that i would now
if only i could
passaram-se
já
6 meses.
todo esse tempo
incalculável
insuperável
inaceitável
desde um último
teu
respirar.
e no entanto,
no entanto,
no meio desse tempo,
há 18 ontens atrás,
com a força do sangue que lhe vive nas veias,
respirou o tiago
connosco
pela primeira vez.
..
com ele
(e a rita
e o diogo
e a sara...)
acredito
- acredito -
que.
down the middle drops one more
grain of sand
they say that
new life makes losing life easier to understand
words are kind
they help ease the mind
- i'll miss my old friend
and though you gotta go
we'll keep a piece of your soul
- one goes out,
one comes in
you know that i would now
if only i could
you know that i would now
if only i could "
.
e lembro
lembro
estas palavras
em meus ouvidos
ao passar as portas
- tantas vezes
tantas portas -
do hospital.
que sonhava abertas
para ti.
(if only i could)
(eleventh hour, de felicity rogers)
..
persistes.
vives.
dentro.
quarta-feira, dezembro 12, 2007
terça-feira, dezembro 04, 2007
vida fora, dentro
" why are the poor so stricken by despair?
why do the rich feel ever more alone?
it embraces everything,
night and dreams,
silence that arouses anxiety.
night that envelops sadness and despair.
dreams of hope for a transformation.
let us take heed of job.
then maybe we'll prevail against
the slogans, the labels, illusions and indifference,
the cradles that surround us. "
(zbigniew preisner)
(barbican, 2.xii.2007)
ele recolheu-se em si, no começo de tudo.
baixou a cabeça,
em si e com o que,
e mergulhou fundo.
ela brilhava,
já,
discreta, distinta, altiva
- senhora de sentir.
batia-me forte o presente,
como se quisesse existir de repente
em tudo o que sou
sei ser
e querer
viver
fora
como se dentro.
à minha volta
- de tão perto,
eu -,
a orquestra.....
enleio.
enlaço.
abraço.
partilha.
depois,
depois da espera discreta
ansiosa
viva
pelo tempo de preisner,
a voz.....
a voz de teresa
a arrebatar-nos de nós.
do que é
ser-se
só
em sentir.para
sentir.
" understand the season,
understand your mind.
let yourself feel contact,
closeness that we find
mute as if enchanted.
days pass by in streams
leaving nought behind but
silence, night and dreams. "
(da bíblia sagrada, in "silence, night & dreams")
...
quando se recolhe ao silêncio
teresa é parte da música.
funde-se nela.
e todos
todos
somos marionetas de sentir
nas mãos dançantes de preisner.
...
do silêncio nasce a harpa.
e a noite
ali
não é já (d)o tempo.
real como os sonhos,
a flauta que me há-de ser sempre preisner,
sempre a fundura do ser.
..
e de novo teresa.
em voz-onda,
marulhar de todos os sentires.
...
olho-a fundo.
sou lágrima (d)e orgulho por ela,
neste meu longe que a vejo partilhar.
por tudo o que,
ela.
.
um coro se junta a nós
- vozes imensas de força
que se juntam à flauta de preisner,
ao piano de preisner,
aos violinos,
a todo e cada um de seus toques de sentir.
e minhas asas livres,
desenlaçadas,
assim...
como se fácil,
sempre.
eu que
agora
vôo
também.
e choro, dentro.
tremendo-me
corpo e sentir
neste embalo de força viva.
..
a música termina.
no ar,
o eco silencioso do sentir exacerbado,
indomável,
em verdade,
presença
e vida.
preisner vira-se muito
e ainda mais
lentamente
para o público.
olha-nos.
sente-nos.
e recebe
verdadeiro e humilde
- como
e com
teresa -
a nossa gratidão.
....
("peterborough, 03.xii.07
sinto muito.
sinto tudo.
a música de preisner abre-me os sentires à vida
a voz de teresa traz-me essa vida em mar...
e é dentro de mim que viajo.
por sua mão.
em paz.
(no) silêncio
(em) noite
(d)e sonhos." )
" 5, 13-14
you are salt to the world
you are light for all the world
don't be afraid
7, 7
ask, and you will receive
seek, and you will find
knock, and the door will be opened
don't be afraid
7, 13
enter by the narrow gate
the gate is wide
that leads to perdition
don't be afraid
be faithful
go "
(de the envoy of mr. cogito, de zbigniew herbert)
...
e não tenho medo...
e vou.
e sou.
marulho de nana às 17:18 15 ondas
búzio dentro da minha londres, da minha terra, do amor à vida, do recomeço que a vida molda
sexta-feira, novembro 30, 2007
in darkened silence
..
*" - is he dead, mama?
- i think so,
sweetheart...
- can we wish
for him to come back?
- yeah.
...
- i wish.
...
- i wish, too. " *
...
(*do filme e.t., o extraterrestre)
(imagem do ciclo light of life, de de es)
marulho de nana às 14:18
quarta-feira, novembro 28, 2007
transparência (en)cantada
abri sua janela desenhada:
em cada cortina um marulho
em cada imagem
minha vida apalavrada
olhei-me de fora,
vi-o ver-me dentro
e pensei
é como que me sabe em côr d'alma
quem me não sabe de cor em verdade?
..
(ruela, marulhos)
....
(porque não sei,
não sei mesmo
as palavras para.
....
obrigada.)
marulho de nana às 22:08 16 ondas
búzio dentro da partilha (não) virtual
quinta-feira, novembro 22, 2007
"loop". constante.
aqueço-me para além do passado
que corta
ainda
cego em si mesmo
liberto-me de mim própria
meus próprios fantasmas
em vida parada
mesmo se me firo
arranho
queimo
engano
..
tento
levantar
me
de mim
e faço
sinto
canto
minhas
novamente
as suas palavras
..
" lift me up on my honour
take me over this spell
get this weight off my shoulders
- i’ve carried it well
loose these shackles of pressure
shake me out of these chains
lead me not to temptation
hold my hand harder
ease my mind
roll down the smoke screen
and open the sky
* let me fly *
- man, i need a release from
this troublesome mind
fix my feet when they’re stumbling
and where you know it hurts sometimes
you know it’s gonna bleed sometimes
dig me out from this thorn tree
help me bury my shame
keep my eyes from the fire
they can’t handle the flame
grace cut out from my brothers
when most of them fell
i carried it well
* let me fly *
man, i need a release from
this troublesome mind
fix my feet when they’re stumbling
i guess you know it hurts sometimes
you know it’s gonna bleed sometimes
now hold on
- i’m not looking for sweet talk
i’m looking for time
time for tower and sleep walk
brother, cause it hurts sometimes
you know it’s gonna bleed sometimes
hold on
you know its gonna hurt sometimes...
when you call me...
hold on...
hold on...
hold on...
i’m gonna climb that symphony home
and make it mine
let his resonance light my way
see, all these pessimistic sufferers
tend to drag me down
so i could use it to shelter what good i’ve found "
....
(haley bryan, towards the light)
..
(primeira imagem: haleh bryan.
imagens no slideshow: auguria, bjorn tagemose, cole rise, f.n.terryan, floriana barbu, yatsutani taizo, banksy, zack garner, lovisa ringborg e michael vesen
música: the killers, sweet talk, do novo album sawdust)
marulho de nana às 00:20 16 ondas
búzio dentro da música que é dentro, do amor que não, do elo de reconhecimento, do recomeço que a vida molda
quinta-feira, novembro 15, 2007
manhã de acordar
(while you were gone, de haleh bryan)
ele deitou o seu corpo com o meu.
na calma de quem não possui,
engolimos a noite e o mundo
e sob a manhã acordámos o toque do que se não sabe em nós.
olhou-me perto,
viu-me em presença
e deu-me os olhos a sorrir.
descobriu-me dentro
descobriu-me em vida
e
sem mais nada
por mim se aventurou na solidão da não-paz em que me escondia
ainda
o fantasma egoista
de um falsificado,
abandonado,
amordaçado
amor.
que sei
agora
que não.
...
o meu corpo
hoje
voltou a meus braços.
(between us, de haleh bryan)
...
( " you'll be given love
you'll be taken care of
you'll be given love
you have to trust it
maybe not from the sources
you have poured yours
maybe not from the directions
you are staring at
trust your head around
it's all around you
all is full of love
all around you
all is full of love
you just aint receiving
all is full of love
your phone is off the hook
all is full of love
your doors are all shut
all is full of love
all is full of love
all is full of love
all is full of love
all is full of love
all is full of love " )
marulho de nana às 20:28 25 ondas
búzio dentro do amor que não, do elo de reconhecimento, do meu corpo, do recomeço que a vida molda
segunda-feira, novembro 12, 2007
silêncio calado
" tenho saudade de meu pai.
..
tenho saudade de tudo. " *
..
* do filme central do brasil, de walter salles
(imagem de bogdan zwir)
marulho de nana às 04:45 18 ondas
búzio dentro da vida, daqueles que ficaram, das datas
quinta-feira, novembro 08, 2007
longe, em aniversário
(edvard munch, puberty)
" ...and that's the day i knew there was this entire life behind things, and...
this incredibly benevolent force, that wanted me to know there was no reason to be afraid, ever.
(...)
i need to remember...
sometimes there's so much beauty in the world i feel like i can't take it,
like my heart's going to cave in. "
(do filme american beauty)
..
escrevo neste longe como quem escreve em casa.
tudo me é paz, força e vida
neste momento de tempo.
instante.
toques novos que me levam ao que sou,
me beijam em murmúrio o ouvido,
me acordam de certeza e sorriso.
guardo tudo para que o lembre,
mais tarde,
a este tempo parado
suspenso
em dislumbre
e maravilha
de ser-se humilde
como a vida.
(bogdan zwir, butterfly)
...
na ausência do toque
do mar
dos outros
(re)escrevo-me.
lembro tudo o que sou
sinto
vivo.
mesmo se longe.
mesmo se aqui.
mesmo se na distância
dorida
de um
qualquer
não-abraço.
..
sei que vivo
viva.
e isso me é tudo.
que a cada passo
a cada gesto
a cada toque de maravilha adormecida
eu seja
sinta
exista
na paz marulhar
de ser verdade na vida.
(ana nicolau)
marulho de nana às 09:10 21 ondas
búzio dentro da luta, da minha vida, das datas, do amor à vida
terça-feira, outubro 30, 2007
esperança (d)e vida
anoitece.
....
é cedo
e anoitece.
....
(brian wiles, dawn)
há vozes que me chamam e falam mais que a minha língua...
vêm de todos os lados
e são como vidas que me trazem a vida,
me lembram a doçura da humanidade fugaz,
me fazem acreditar que é sempre possível ser-se melhor...
(assim sorrimos de tudo
frente a um arco-íris chovido que invade a cidade cinzenta,
uma lua cheia que respira todo um campo de folhas sonhadas, caídas em côr,
um sol que nu e vermelho mergulha em água e sal de mar...
assim nós.
como quem olha a vida nos olhos e vê para além dela.
..
para além do que.)
aceitar quem dói,
aceitar a ausência,
aceitar escolhas e escolher
escolher
sorrir sobre tudo.
..
sobretudo sorrir.
ser verdadeira ao olhar que procura, deixar que entre nos olhos, por pouco que seja,
que entre, se sente à beira, como se.
deixar-se invadir pelas palavras que tocam,
levam o pensar sem que se pense,
fazem voar de intimidade a desconhecida distância.
hesitar, ainda, na entrega da verdade,
em verdade,
a entrega antes da paz, dentro,
porque não-paz esta serenidade que o não é,
porque não-completa, inteira,
ainda...
mas deixar,
deixar que os olhos.
beber das palavras, saborear-lhes o toque,
em segredo.
deixar que confortem
e possam ser
a vida
que se faz.
acordar a cada dia e sorrir,
sorrir só,
sorrir com,
em alegria de vida.
pela vida.
na vida.
e assim
ser
cada segundo.
...
isto
assim,
neste preto e branco de côr,
vejo eu,
faço por,
quando olho em frente.
comigo,
em mim,
na travessia do presente.
com tudo o que (não) ficou para trás.
..
ainda se sente.
...
assim eu,
no mundo,
em sal de saudade,
vida e verdade.
assim eu,
em mim,
em teimoso renascer
- como quem refaz e relembra
a cada noite
o amanhecer.
(imagem de bogdan zwir)
" os desejos mais puros e ardentes do coração
são sempre realizados. "
(mohandas k. ghandi, in
"a minha vida e as minhas experiências com a verdade")
marulho de nana às 07:10 22 ondas
búzio dentro da luta, da partilha (não) virtual, da vida, de mim, de viver a vida, do amor à vida, do amor que não, do elo de reconhecimento, do recomeço que a vida molda
sexta-feira, outubro 12, 2007
embalo (s)em meu pai
tudo da vida,
então,
ainda
e tanto
dentro.
(clicar aqui para versão youtube)
(embalo (s)em meu pai com imagens de ana nicolau, IgaNinja, kyle houston cummings, guayasamin, dale wicks, graça morais, peter kozikowski, hau maru e antoine de saint-exupéry
imagens "esperando" e "máscara" de autores desconhecidos
poema "a pequena praça" de sophia de mello breyner andresen, por luis miguel cintra
música de javier navarrete, do filme "el laberinto del fauno")
marulho de nana às 04:45 35 ondas
búzio dentro da vida, daqueles que ficaram, das datas
terça-feira, outubro 09, 2007
do nada: a última dor
" mar adentro, mar adentro,
y en la ingravidez del fondo
donde se cumplen los sueños,
se juntan dos voluntades
para cumplir un deseo.
un beso enciende la vida
con un relámpago y un trueno,
y en una metamorfosis
mi cuerpo no es ya mi cuerpo;
es como penetrar al centro del universo:
el abrazo más pueril,
y el más puro de los besos,
hasta vernos reducidos
en un único deseo:
tu mirada y mi mirada
como un eco repitiendo, sin palabras:
¡más adentro, más adentro!,
hasta el más allá del todo
por la sangre y por los huesos.
pero me despierto siempre
y siempre quiero estar muerto
para seguir con mi boca
enredada en tus cabellos "
(ramón sampedro, por javier bardem)
....
na morte de um (este) amor,
lembro a beleza toda que um dia.
como quem dorme, sonha, ainda.
e acorda de dor e espera,
em olhos por ti abertos.
" peço-vos perdão, o mais humildemente possível,
não por vos deixar
mas por ter ficado tanto tempo. "
(marguerite yourcenar)
....
pela teimosia do cuidar,
sempre.
do lutar contra tudo,
lutar por nós,
quando nós éramos
afinal
só eu.
" Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Escribir, por ejemplo: "La noche está estrellada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos."
El viento de la noche gira en el cielo y canta.
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.
En las noches como esta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.
Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.
Oir la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.
Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche esta estrellada y ella no está conmigo.
Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.
Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.
La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.
Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.
De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.
Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.
Porque en noches como esta la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.
Aunque este sea el ultimo dolor que ella me causa,
y estos sean los ultimos versos que yo le escribo. "
(pablo neruda)
quero que saibas, agora, em ti, agora que nada mais, que te amei como nunca, antes ou depois.
amei-te como quem é eterno, como quem tem uma só vida, e essa só vida entrega, partilha, vive, funde no que ama.
amei-te por entre os dedos das vozes que nos viram amar, os ventos testemunhas de um amor eterno como o silêncio.
que se quebra, afinal.
amei-te para além de mim, de ti, de nós.
para além da mentira.
amei-te na vida, no sonho, na côr;
fui, quis ser, teu porto de abrigo. teu alívio, eu. tua força. tua paz.
mas afinal.
...
e quero que saibas que te amarei sempre,
para sempre,
mas não mais to direi.
não mais.
e aos poucos também eu esquecerei tudo o que um dia,
e contigo esvaziarei as memórias do nosso futuro,
secarei o amor líquido que me corre ainda nas veias
com a certeza gelada do querer que me já não tens.
andarei pelo mundo sem sonho por companhia,
a noite tão longe da lua,
porque ninguém mais, ninguém mais dormirá na minha sombra.
.
depois, depois de tudo esquecer,
depois de aprender a viver
sem dia ou mar para saber-te feliz,
te amenizar a dor,
amaciar tuas feridas,
lamber tuas asas,
fundir-me contigo na areia de nossos lençóis,
ser água contigo,
ser eterna mesmo com a morte a rondar-nos a vida,
depois os meus olhos serão só meus,
como te são os teus, já.
de com quem os fechas,
em paz e em ti.
também eu te não procurarei.
também eu viverei como se nada,
nós,
nunca
nada.
e hei-de,
como tu,
ser feliz.
hei-de ter amor de toque,
novamente.
mesmo se não.
e não voltarei a ser amor de palavra,
sem a vida.
não voltarei a viver amor
de dor
assim.
...
(eterno
sempre
este querer muito,
querer mesmo,
querer
só
que sejas muito
e tão
feliz.
com tudo o que te é paz
força
alívio
em doce cativar.
dentro.)
(imagens de sascha hüttenhain e haleh bryan)
marulho de nana às 17:48 18 ondas
búzio dentro do amor que não
segunda-feira, outubro 08, 2007
for good. (y)our own.
és como um dia de chuva cuja vinda não antecipo.
convenço-me da vida ao sol, por maiores as nuvens que insistem lembrar-me o fim do verão, o fim da promessa, da verdade, de nós, e depois tu vens e choves sobre o que vivo
- choves sobre o que podíamos ter sido nós, o que fomos um dia, sem respeito ou cuidado nenhum pelo meu sentir - apanhas-me desprevenida e ainda me culpas por o não esperar. por esperar mais de ti, eu, ainda.
até quando?....
"não sei".
não sabes, tu.
não sabes nada, e lavas as tuas mãos com a mesma facilidade com que dizes viver a paz sem mim, com que violas uma e outra e tantas vezes os sítios e horas de um amor em tempos vivo e divino, que amaste também, que também tu quiseste eterno,
a mesma facilidade com que me não procuras no silêncio ou na noite, sabendo, tu, o que, eu, longe,
a mesma com que me abandonaste tantas vezes à beira do sussurro da morte no corpo que amo e de que tenho tantas saudades que choro, ainda e sempre, de noite e de dia, tanto ultimamente, tu sem o saberes ou quereres sequer,
porque tu
e a tua vida
e o teu sentir
e a falta de
e.
.....
e eu desisto.
eu que não queria,
lutei mesmo quando não sabia que lutava,
ainda
- eu
desisto
de vez.
for good.
esperando ainda que venhas, uma última vez, pela importância toda que me tem, que preciso, tanto, tanto, que sejas tu a.
por ti.
acima de tudo,
por ti.
tanto, tanto e tanto,
sempre.
pelo passado,
a importância,
o tempo "perdido" com,
a responsabilidade que não esqueço, eu
- espero-te ainda na desistência de nós.
.....
(" dear leonard.
to look life in the face, always, to look life in the face and to know it for what it is.
at last to know it, to love it for what it is, and then, to put it away.
leonard,
always the years between us,
always
the years.
always
the love.
always
the hours. ")
(" is it cruel or kind
not to speak my mind
and to lie to you
rather than hurt you
well, i'll confess all of my sins
after several large gins
but still i'll hide from you,
hide what's inside from you
and alarm bells ring
when you say your heart still sings
when you're with me
oh won't you please forgive me
- i no longer hear the music
and all the memories of the pubs
and the clubs
and the drugs
and the tubs
we shared together
will stay with me forever
but all the highs and the lows
and the to's and the fro's
- they left me dizzy
oh won't you please forgive me:
i no longer hear the music
well i no longer hear the music
- when the lights go out
love goes cold in the shades of doubt
the strange face in my mind - it's all too clear
music when the lights come on
the girl i thought i knew has gone
- with her my heart, it disappeared
well, i no longer hear the music
all the memories of the fights
and the nights
under blue lights
all the kites we flew together
- i thought they'd fly forever
but all the highs and the lows
and the to's and the fro's
- they left me dizzy
won't you forgive me:
i no longer hear the music
well, i no longer hear the music
i no longer hear the music
- when the lights go out
love goes cold in the shades of doubt
the strange face in my mind - it's all too clear
music when the lights come on
the girl i thought i knew has gone
- with her my heart, it disappeared
well i no longer hear the music
- i no longer hear the music... ")
(que saudades de quando o tempo
ele próprio
era criança...)
(imagens de ana nicolau
- bairro alto, set.07
- comporta, set.07)
("you cannot find peace by avoiding life, leonard.")
marulho de nana às 18:48 10 ondas
búzio dentro do amor que não
sábado, outubro 06, 2007
ondas (d)e marulhos na escrita de mim
tenho um caderno, ainda, hei-de ter sempre, onde escrevo quando me inundam tanto os sentires que não posso segurá-los dentro,
e assim os (re)vivo na escrita, como quem liberta fantasmas, sacode a dor dos ombros, recebe em si mesma sons e silêncios de vida.
às vezes sem caderno ou papel,
sem caneta ou,
noto um escrever constante.
- escreve-se sempre
dentro de mim.
..
são muitas as noites, às vezes tardes, em que me sento a esta mesa,
puxada pelas palavras desse caderno ou por outros
mesmos
sentires ainda não escritos
e aqui deposito o que me vai dentro,
às vezes de forma tão violenta que me sangram quase os dedos,
outras tão de mansinho que podia chorar.
como se,
como num,
como no
nu
caderno.
escrevo neste espaço como quem se senta em frente ao mar e lhe oferece o sentir,
lhe dá o choro a ouvir,
se ri,
sorri,
a medo,
de vida
com ele.
leio as ondas que me chegam à praia como quem colhe conchas,
uma a uma,
devagar,
lágrimas como_vidas no rosto e nas mãos,
abismada pelas tantas cores em que lhe adivinham e reforçam vontades,
suspiram dizeres escondidos,
relembram segredos de vida.
.
por isso te agradeço,
a ti,
por tudo o que disseste e me fizeste sentir.
e por isto...
“é um prémio especial para mulheres que, na sua escrita, mostram uma preocupação pelo mundo à sua volta e ainda conseguem dar um pouco de si e dos seus sentimentos e com isso tornar mais leve a vida dos outros.
este prémio foi feito para mulheres, mães e profissionais que espalham a palavra de uma forma emotiva e cativante.
que nos falam da guerra mas também do amor”.
porque escrever é só o que mais dentro sou,
muito mais
às
tantas
vezes
do que o que falo,
digo,
mostro
- e está em ti a leveza das palavras que lês.
por me mostrares, também tu, a partilha,
essa benção que descubro dentro
e me faz descobrir tudo o que.
me descobre, segura.
...
a todos vocês
que aqui vêm,
me tornam leve,
e a mim mesma devolvem em ondas de palavras,
quando o escuro e a dor lutam por roubar-me à escrita,
o meu
tanto
obrigada.
marulho de nana às 18:39 9 ondas
búzio dentro da escrita, da partilha (não) virtual, de mim
quinta-feira, outubro 04, 2007
" carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de goya
não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
é possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
e é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. tudo é possível, ainda quando
lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer uma delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim, amaram o seu
semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente à secular justiça,
para que os liquidasse com suma piedade e sem efusão de sangue.
por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anónimamente quanto haviam vivido,
ou as suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de uma classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de deus.
estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. mas isto nada é, meus filhos,
apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadeia de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.
é isto o que mais importa - essa alegria.
acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez
alguém está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão-de ser em vão. confesso que
muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
serão ou não em vão? mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
nenhum juízo final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam “amanhã”.
e, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é só nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram. "
(jorge de sena)
marulho de nana às 20:22 7 ondas
búzio dentro do mundo que vemos e vivemos
quarta-feira, outubro 03, 2007
eyes wide open
" burma is ruled by one of the worst military dictatorships in the world. last month buddhist monks and nuns began marching and chanting prayers to call for democracy. the protests spread and hundreds of thousands of burmese people joined in, but they've been brutally attacked by the military regime.
i just signed a petition calling on burma's powerful ally china and the UN security council to step in and pressure burma's rulers to stop the killing. the petition has exploded to over 500,000 signatures in a few days and is being advertised in newspapers around the world, delivered to the UN security council, and broadcast to the burmese people by radio. we're trying to get to 1 million signatures this week, please sign below and tell everyone! "
demos voz a quem a não tem.
aqui.
(imagem: guernica, de pablo picasso)
marulho de nana às 21:53
búzio dentro do mundo que vemos e vivemos
sábado, setembro 29, 2007
minha terra, liberdade de amor e mar
o sangue da língua,
a canto das veias,
o vento da voz....
ouço na noite as gaivotas que me chamam à terra de mim.
.....
aterro.
o calor do sol...
eu maré de perguntas
livres de sentido e respostas.
- como é que...?
- mas não...?
- for good?
..
(for good.................................?)
..
lisboa.
ando pelas ruas.
ando
só
cheia de tudo o que sou.
cheia
como a lua.
com a lua.
cheia.
mesmo se a cheiura de mim
é tão relativa quanto o amor que foi (sen)tido.
contínuo.
contínua.
continua.
continuo.
prossigo.
ando.
ando mais.
ando muito.
os rapazes da água a gritarem-me ao sangue,
a fazerem-me mar
aqui
em mim.
that was the river.
cada minuto
passado.
this is the sea.
cada minuto
presente.
o mar, o mar, o mar...
meu mar de embalo,
meu mar de mim.........
entro numa casa.
fala-se amor à minha volta.
há olhos de meninice,
nos que crianças e nos que não.
olho-os ao espelho e sei-os verdade,
a cada um,
no que me é dentro,
no que somos,
como um,
tanto,
para sempre.
- minha família de sangue,
tribo de amor e justiça...
passo no bairro das ruas tortas,
que se entortam,
e são como um filme, os amigos.
olho-nos de fora sem que o saibam
e sorrio tanto,
é-me tão feliz este tempo todo,
anos de nós,
de intimidade
e cumplicidade,
que ficam,
e agora outra vez,
mais esta vez,
aqui.
(decido não fazer por tentar ver o amor, descobri-lo, um vestígio de, como se não fosse tão cruelmente óbvio, o seu estrangular na escolha da vida sem, desequilíbrio, desequilíbrio, resisto, desisto, caio de novo, caio nos olhos, na vontade, no presente, um momento, um só, um só que queria saber que querido também, só, caio, caio, nós cada vez mais longe, sem a fala, sequer, caio, calo, caio, dói-me a dor, a sua também, dói-me tamanho cansaço de vida, sem que possa, sem que ouse sequer tentar ajudar, porque agora, porque o amor deitado fora, o violar do sagrado, o abandono, tão só isso, total, longe, o alívio que já não vem de meus braços, a paz que se consegue sem mim, caio, caio, mas caio com asas, asas que me esqueço de abrir, esqueço de usar, porque não sei, não sei ainda, e era contigo que eu queria dançar.
acordo antes do fundo, ladeada por esse lugar em tempos imaculado, intocado por quem senão, acordo, acordo, bato as asas, danço de olhos fechados mas danço, suspensa, surpreendida, ainda, neste limbo de transição, sem ter aberto de vez a mão para deixar, também eu, ir o amor sem salvação, roubado até de seu porto de abrigo, sem asas ou vida humana que o lembrem de ter sido real.
cuando te hablen de amor y de ilusiones
y te ofrezcan un sol y un cielo entero;
si te acuerdas de mí no me menciones
porque vas a sentir amor del bueno.
y si quieren saber de tu pasado
es preciso decir una mentira,
dí que vienes de allá de un mundo raro,
que no sabes llorar, que no entiendes de amor
y que nunca has amado.
porque yo a donde voy, hablaré de tu amor
como un sueño dorado
y olvidando el rencor no diré que tu amor
me volvio desgraciado.
y si quieren saber de mi pasado,
es preciso decir otra mentira,
les diré que llegué de un mundo raro,
que no sé del dolor, que triunfé en el amor
y que nunca he llorado.
e eu hei-de deixar de sentir-nos em cada rua de então.)
.
é fim de tarde.
de todos os cantos da fotografia me espreita a luz de cima, em céu claro, azul de olhos, também, sol radioso, radiante de vida nesta cidade que sou.
mesmo se por vezes
ainda
aqui
me não acho lugar.
em todas as ruas te encontro.
ainda.
em todas as ruas me perco.
..
dá-me a mão, lisboa, vem perder-te comigo, vem ser em mim a beleza de força e entrega de minha mãe, vem sentar-te a meu lado ver a bianca luz que nos invade de carinho, já, vem abismar-te de orgulho e gratidão por essa cinderella que tanto dá aos que lhe são dentro, e que agora abre coração e vida a uma menina a quem ensinará o amor, a família, a segurança eterna de não estar só.
e o mundo, só por isso, ser tão mais bonito e alegre, hoje.
...
o mar, o mar, o mar...
meu mar de embalo,
carinho,
certeza...
mar da comporta,
mar de mim...............
...
minha casa de água salgada que não ouso ainda provar,
por mais que me (es)corra na pele...
faço-me as malas.
(re)parto(-me) de novo.
mas aqui morarei um dia.
sei-o,
fundo.
por mais que eu.
por mais que tu.
por mais que o mundo.
(" the times we had
oh, when the wind would blow with rain and snow
we're not all bad
we put our feet just where they had, had to go
never to go
the shattered soul
following close but nearly twice as slow
in my good times
there were always golden rocks to throw
at those who,
those who admit defeat too late
those were our times
those were our times
and i will love to see that day
that day is mine
when she will marry me outside with the willow trees
and play the songs we made
they made me so
and i would love to see that day
her day was mine" )
(poema un mundo raro de josé alberto jiménez)
marulho de nana às 12:21 17 ondas
búzio dentro da amizade, da familia, da luta, da minha terra, de mim, do amor que não, do passado presente
domingo, setembro 23, 2007
Life And Memories Inflicting Affection
minha querida irmã de amor e dor,
sim, tens razão:
eu sabia.
ou talvez esperasse saber, tivesse a esperança de.
e secretamente o sentisse, já.
em ti.
como tu em mim,
logo,
desde a primeira palavra de imagem.
também eu amei inteira
e toda me dei,
em tudo,
e tanto mais do que pensei e quis ser capaz.
também eu amei com o futuro e o passado presentes em mim,
amei de olhos abertos,
até mos cegar quem mos roubou
ao deixar de olhar-me.
por isso,
sim,
os nossos amores foram,
são ainda,
por mais que,
iguais de vida,
personagens,
desilusão.
tão iguais....
igual agora este vazio de vivermos perdidas em nós,
quebradas e gastas pelo ardor do sal,
neste labirinto de pele e saudade
onde já não sabemos sentir o caminho de volta ao que somos,
fomos quando,
antes de.
- é como que se vive feliz sem essa vida inteiramente repartida,
amada em sangue, água e entrega?....
e este saber que não há nada que possamos fazer para trazê-la de volta.
e o não-saber já se, anyway...
e não haver nada que cale ou alivie a crueldade de terem violado os sítios do nosso amor - como foi que puderam, esses locais de tudo que acreditámos serem nossos, para sempre, mesmo se, mesmo agora?... -, onde nos entregámos e fomos tanto mais do que simples mortais, nós, vivas de amor e futuro.
nada que pare a faca de mágoa de os vermos constantemente aprisionados em imagens de outras mãos, outro alívio, em força e sentires que não nascem já das memórias do nosso amor,
que é destronado sem mais nada,
sem que se pare um pouco sequer,
um momento só de respeito à lembrança do que ali vivemos e entregámos,
como se nada,
ninguém mais no mundo senão nós.
...
mas um dia
- eu to prometo para além destas lágrimas que me choram as veias do corpo por si mesmo abandonado -
será também nossa a paz maior
de viver sem o seu amor.
para sempre.
como quem, agora, sem nós.
prometo.
por mais dor
o negro das azeitonas
e o vermelho das papoilas
que aos pares.
eu to prometo.
nos.
until then,
my friend of hidden face and feelings,
let us breathe.
( " help, i have done it again
i have been here many times before
hurt myself again today
and the worst part is there's no-one else to blame
be my friend
hold me, wrap me up
unfold me
i am small
and needy
warm me up
and breathe me
ouch, i have lost myself again
lost myself and i am nowhere else to be found,
yeah, i think that i might break
lost myself again and i feel unsafe
be my friend
hold me, wrap me up
unfold me
i am small
and needy
warm me up
and breathe me
be my friend
hold me, wrap me up
unfold me
i am small
and needy
warm me up
and breathe me " )
(imagem: danae, de gustav klimt)
marulho de nana às 20:44 12 ondas
búzio dentro da partilha (não) virtual, do amor que não, do elo de reconhecimento, do recomeço que a vida molda
terça-feira, setembro 18, 2007
por sempre. para sempre.
“ tenho uma amiga que me conhece para além do tempo. para além de tudo.
tem olhos de céu, sorriso côr de criança e a vida a nascer-lhe das palavras.
com ela, por ela, escolhi, reaprendi essa vida, a vida viva, essa de dádiva e abraços, há 14 anos atrás.
tenho uma amiga que me conhece para além de mim. para além do que.
olha-me nos olhos e eu sei que posso ser verdade, sei que quero ser vida, que preciso ser eu.
com ela, nela, a dor e a morte são derrotadas.
por ela, a coragem da vida renasceu. ”
(lisboa, 18.07.07)
...
no ano de ’93, sem que nos conhecêssemos ou soubéssemos quão perto estavámos, já, quão enleadas nossas vidas se tornavam, flechinha e eu vivíamos sentires semelhantes, inigualáveis de dor e espanto, incompreensíveis por todos os que não os sofriam, ali, connosco, nós adolescentes atordidas de realidade e adulthood, sem aviso ou trégua possível.
quando nos conhecemos, quando primeiro falámos e nos sorrimos de e em vida, apesar de tudo o que, passava um mês exacto sobre dessa data que nunca ouvirei ou sentirei de maneira quotidiana, nunca será confundida com nenhuma outra, nunca fará parte de um calendário normal, como se viessem todos com defeito de fabrico, como a vida, essa, todos com esse dia assinalado a dor.
eu tinha já feridas abertas que não entendia mas me ardiam, lágrimas com sabor a morte, um viver que eu desconhecia e não sabia sentir.
ela vivia o pesadelo dos dias que traziam a incerteza da certeza do medo do amanhã.
lambemos feridas juntas, trocámos vidas e lembranças desses dias de desespero e confusão, tantas e tantas vezes, tantas e tantas noites de palavras e lágrimas e partilha de tudo o que éramos, queríamos ser, e o que não sabíamos que era em nós, também. fomos dúvida do presente agarradas ao passado, mas fomos juntas, passo a passo, em direcção a qualquer coisa que existia, devia existir, lá mais à frente - flechinha com todo o amor, força e uma recusa quase teimosa em ver-me desistir do que fosse em mim.
porque eu, eu afundei-me na dor não-prevista e injusta da morte de quem tanto vivia e mais queria viver.
eu quis afundar-me nos dias, ser sombra, ser não-vida. recusar-me ao viver em jeito de protesto. e quando me recusei a sair de lisboa porque o corpo de quem, mesmo se morto, era aqui que morava, aqui condenado a ficar para sempre, quando disse não ao viajar para qualquer sítio que me tirasse desta cidade, que me tirasse da proximidade do seu corpo, porque isso pelo menos – acreditava eu – existia ainda, e me parecia tão injusto, tão terrível aquilo que eu via como abandono, flechinha, em meiguice e impenetrável amizade, estendeu-me a mão e puxou-me à vida. quando ninguém mais, eu culpada, o pôde fazer.
durante meses a fio, esteve a meu lado, até eu voltar a saber ter e viver o peso do que era em mim própria, sem refúgios, fugas ou abandono de mim.
para além da distância que a vida sabe e pode trazer, soubemos ter-nos sempre dentro, por maior o longe fora, por maior o mundo em muro entre nós: eu sabia, soube sempre, que no momento do precisar a vida não me faltaria. porque ela.
quando emigrei, o conforto de sabê-la na mesma terra.
ela que me precisava, também, tanto, mas que apesar disso, quando lhe confessava o choro, quando me doía o medo e o peso da fraqueza da saudade, me dizia “se não és feliz, se assim, aqui, não consegues ser força na felicidade, vai. volta. volta para longe de mim, mas fica perto do que te faz força e te é dentro.”
...
fiquei. com a sua força na minha, também.
fui ficando até voltar,
voltando até ficar.
aquando do início do pesadelo, no ano passado, embrulhou-me a amizade em presente – ela que tanto poderia ter-se “desumanizado”, por tudo o que, nesse ano – e tentou, da única forma (im)possível, proteger-me do futuro que já tinha vivido.
esteve comigo, a meu lado, sentada na cadeira que não existia naquele quarto de hospital que não sei já se existiu, também, de manhã à noite, e madrugada fora, flechinha esteve comigo a cada instante de espera, ânsia e recusa do amanhã, tanto e tão mais do que outros, “perto”...
e nunca
nunca
me abandonou em mim.
a ela, só a ela, confessei – nesses dias de desmesurado nada - a fraqueza sob o peso que não queria admitir a ninguém mais. mesmo se. porque.
- não aguento mais. é como que lhe paro o sofrimento?, é como que se vive isto?......
e ela, a meu lado, a vivê-lo comigo, a sofrer comigo, sem nunca, nunca, me largar a mão ou a vida.
...
e agora,
agora,
ontem ainda,
no carinho e calor de uma casa de tanto e tão bonito, tão sentido amor, flechinha e sua metade a “convidar”em-me a ser madrinha do novo ramo de sua árvore de vida.
godmother lhe chamam na terra onde vivemos nós.
...
e assim, pela mão de flechinha, como tanto mais, antes, me torno mother pela primeira vez.
e nem sei dizer do orgulho que me traz lágrimas à voz e este sorriso de sentir aos olhos por ser um filho seu, vindo dessa união de tanto tudo, que me é tão dentro, que faz querer chorar de feliz, eu simples visita nessa casa de amor.
e penso, sei, que não poderia ser de outra maneira. de outra pessoa, antes de.
porque nela a força.
nela o apoio.
o exemplo de coragem,
não-entrega ao que tenta
e faz por
vergar e quebrar.
nela o amor.
e agora,
pela mão dela,
de novo,
a vida.
“ fechar os olhos, erguer os braços e dizer-lhe “vou contigo.”. isto é claridade, melodia. duas mãos dadas. a parte de dentro e de fora da laranja.
(...)
parou. abriu subitamente os olhos e compreendeu. então, olhando em redor, pensou: onde quer que estejas, obrigada. jamais te esquecerei. ”
(do livro que me deste há quase 11 anos...)
...
obrigada a ti.
pela vida.
fixed.
(imagem: (e)terno abraço, retirada daqui)
sexta-feira, setembro 14, 2007
(olh)os que me olham
os olhos dele são côr de rio quente.
olho lá para dentro
- ouso mergulhar sem que o saiba,
ele,
ou tu,
só eu sozinha no seu mar,
com nenhuma outra permissão para além da certeza
de que me ama e quer perto, dentro -,
e vejo-o, sei-o, menino,
a querer dar-me a mão,
o amor,
a vida.
do nosso estar não restam nem fotografias.
foi assim que escolhemos, sentimos, fizemos.
sem fotografias ou testemunhas, tu e eu, só, sós, no amor divino e infinito que julgámos, acreditámos, ser nosso.
o mesmo cuja mortalidade e humanidade te assustou e fez esconder da vida.
como a nós das fotografias, antes...
ainda bem.
porque as fotografias tornariam tudo muito mais difícil, mais real, mais duro,
agora.
assim é como se não tivéssemos sido senão sonho.
e nem faz mal que tenhas imagens, lembranças a preto e côr e branco, dessa tua outra, primeira vida, por mais que, antes de mim. de nós.
nem faz mal...
ele tem olhos meninos, côr de verão.
palavras tímidas que me chamam à vida.
e eu não me importo de saber que era mentira, tudo mentira, nunca fomos infinitos, nós, tu e eu. eu não estaria assim com ele, deixando que se sente perto, que se chegue mais, tão mais do que tu, agora e.
porque o nosso (esse) amor acabou.
por mais que - sabe-lo como eu - todo o universo, todo mesmo, estivesse do nosso lado quando.
os olhos dele são verdes.
azuis.
claros
e escuros.
e o mar não morre se te não ouço a voz.
e o sol não deixa de nascer com o dia.
a cada dia.
tudo,
tudo existe,
respira,
vive,
sem ti.
a vida continua sem nós.
como se.
como tu.
como eu,
agora.
a quem ele faz por olhar dentro,
em azul fundo,
líquido de ternura e futuro.
(imagem: nude, looking over her right shoulder, de amadeo modigliani)
marulho de nana às 21:39 16 ondas
búzio dentro do amor que não, do recomeço que a vida molda