sexta-feira, fevereiro 29, 2008

partida(s)
































demorei-o no abraço de então.

eram imensos os dias de distância entre nós, as vidas que vivemos longe, o tudo que nos não foi partilha, as dores, os muros, as alegrias, as vitórias, as saudades do que fomos, o orgulho-às-vezes-vergonha do que somos, vamos sendo neste presente de dia acrescido.

este de hoje.

em que dou forma à partida de ti.

















(when dream is gone, haleh bryan)










it ain't no use to sit and wonder why, babe

if you don't know by now



an' it ain't no use to sit and wonder why, babe

it'll never do somehow






when your rooster crows at the break of dawn

look out your window and i'll be gone



you're the reason i'm trav'lin' on











...











don't think twice, it's all right
































it ain't no use in turnin' on your light, babe

that light i never knowed



an' it ain't no use in turnin' on your light, babe

i'm on the dark side of the road






i wish there was somethin' you would do or say

to try and make me change my mind and stay



we never did too much talkin' anyway











...











so don't think twice, it's all right
















encaixoto a vida que aqui fui para a reabrir noutro lugar, outro espaço, meu, onde viverei de portas abertas, a deixar entrar o ar e os outros, a música que chega até ao silêncio dentro, que o faz cantar, me acorda de mansinho, me liberta, me devolve devagar (a)o poisar do sentir.

































...







nesse outro lado de mim, agarro-me ainda ao que não tenho ou sei.





e não te deixo
nunca
morrer em meus sonhos.







..







morres-me só neste tudo
esta vida
este ser
de cada instante.































morres-me







todos os dias.
























...









it ain't no use in callin' out my name, boy

like you never done before



it ain't no use in callin' out my name, boy

i can't hear you any more






i'm a-thinkin' and a-wond'rin' walkin' down the road

i once loved a man, a child i'm told



i give him my heart but he wanted my soul











...











don't think twice, it's all right




































so long,


honey babe


















where i'm bound, i can't tell


















goodbye's too good a word, babe


















so i'll just say fare thee well


















i ain't sayin' you treated me unkind

you could have done better but i don't mind



you just kinda wasted my precious time











...











but don't think twice, it's all right

















.












(imagens adicionais de cig harvey, katia chausheva e noronha da costa
poema: adaptação de
don't think twice, it's all right, de bob dylan)

terça-feira, fevereiro 26, 2008

tempo de.

























(faded memories, haleh bryan)






" é preciso arranjar outros
motivos
outras flores e astros

outras abertas

entre a chuva cansada de um outono
que não sabe já
qual é a terra certa

é preciso pensar outras imagens
outras fissuras, sítios
e cidades

pôr fim ao lamento deste vento
tentar tirar ao anjo
a túnica e o sabre

é preciso inventar outras paisagens
outros montes e águas
outras margens

abrir e expôr o coração
e finalmente deixar
correr as lágrimas "


(maria teresa horta)








fecho as lágrimas nas palavras
para que mais não chovam
sobre o dia de hoje.


porque o sorrir
(que)
aos outros.


a recusa em viver
(cega)
na dor.







..













fecho as lágrimas...














e invento.





























(ben arieh)














...









(-me.)

sábado, fevereiro 23, 2008

(da) escrita no sangue







































vontade de pedir-lhe desculpa,



sem que me possa ouvir,



pela dor que vou trazer-lhe...





















pelo fundo que será em si.























































porque me dói a mim,
















por ele.





















...





















porque isto das personagens.










































..









(imagem primeira de autor desconhecido
imagem segunda retirada de istockphoto
imagem última de haleh bryan,
a moment in time)

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

fala-se de cuba...


e eu lembro reynaldo*:



"por que é que nós, a grande maioria do povo, e até os intelectuais, não nos apercebemos de que este era o início de uma nova ditadura, mais sangrenta até que a anterior? talvez nos tenhamos apercebido, mas o entusiasmo de saber que se é parte de uma revolução, que uma ditadura tinha sido deposta e tinha chegado o tempo da vingança, suprimiu as injustiças e os crimes que estavam a ser cometidos.
e não eram só as injustiças a ser cometidas: as execuções tinham lugar em nome da justiça e da liberdade e, acima de tudo, em nome do povo."


(*reynaldo arenas, antes que anoiteça)































(
the scream, edvard munch)













.....



















you cannot shake hands
with a clenched fist.



(indira gandhi)











.















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segunda-feira, fevereiro 18, 2008

touched

.
adj.
emotionally affected; moved.

.






































" que tipo de diário gostaria que o meu fosse?....
algo pouco formal, e ao mesmo tempo não desmazelado.
tão elástico que abranja qualquer coisa - sólida, ligeira ou bonita - que me venha ao pensar.
gostaria de o assemelhar a uma grande secretária velha, ou a uma mala espaçosa, para a qual se atira todo o tipo de coisas sem olhar.
gostaria de a ele voltar, após um ou dois anos, e descobrir que a colecção - como acontece misteriosamente com estes depósitos - se refinou e a si mesma organizou num molde,
transparente o suficiente para reflectir a luz da nossa vida,
mas ao mesmo tempo uma amálgama estável e tranquila
"


(virginia woolf, a writer's diary)












...









" sabe aquele blog do tipo que, apesar da sua vida corrida, com milhões de relatórios pra entregar, clientes pra recepcionar, patrão te enchendo o saco, você não pode deixar de dar uma olhadinha para conferir as novidades? aquele blog que você lê todo santo dia, mesmo que não haja novidades? aquele tipo que, no trabalho, ou numa caminhada, ou num churrasco entre amigos, você não vê a hora de acessar a internet pra dar uma olhadinha? enfim... pra atalhar... aquele blog que não te sai da cabeça???
presenteie, então, o autor desse blog com esse selo...
"































...












"este diário é o meu cachimbo de erva, haxixe e ópio.
é a minha droga e o meu vício."


(anaïs nin)

































...








obrigada
a quem
generosamente
comigo (o) vive.













obrigada






a ti








pela bondade,










a presença,










a partilha.

































(sky and water, m. c. escher)









...








quarta-feira, fevereiro 13, 2008

"afin de ne pas vous blesser"













































é como cair sabendo que se cai sem fundo...



olho para baixo e (re)vejo a escuridão crua da certeza do nada,
rocha inebriada que ganhou medo ao mar...





e no entanto:


de mão dada, vou.



caio como quem voa, mergulhada de felicidade e equilíbrio, o corpo que deixa de ser meu ou nosso, deixamos esse peso e amamos como quem repousa da vida, às vezes de nós,
tatuamos as mãos de areia em noites de lua e entrega
- o sangue que pulsa,
a água que nasce.



amamos na fúria do medo,
na injusta certeza do amor,
tão menos tudo que a vida...



e amamos em vôo.


amamos em vão.


porque poiso nenhum para este voar.

e tudo é sonho, afinal.










asas inteiras,










corpo,










e(m) queda.
























sem o saber.



















entregue

ao silêncio
agudo
do cair.
















.















(silence, bogdan zwir)
























- minha asa castrada...


foi quando que em terra escolheste
ser água, barbatana e mar?


















































(reunited with her thoughts, haleh bryan)
















...











(imagem primeira, portrait, de haleh bryan)

terça-feira, fevereiro 12, 2008

saudade e.





























...











há dias em que poderia












simplesmente















chorar-te.






quinta-feira, fevereiro 07, 2008

re.vira.volta.




há aqui uma vida inquieta...
em mim.

deixo que por mim passeie, me conheça fundo, me possua até onde chega só a escrita, às vezes...
e o amor.

deixo que me encontre rios escondidos, que mos mostre, que avance por mim em toque de irreconhecível mestria.

peço-lhe que abra caminho, me deixe antever o que vem, para que possa aprender, abrir olhos no muro, saber-me sem toque no escuro, ela a dizer-me que sim, que vá, que faça, que seja...

que vá.



(transformation, bogdan zwir)




o homem que diz "dou" não dá
porque quem dá mesmo não diz

o homem que diz "vou" não vai
porque quando foi já não quis


o homem que diz "sou" não é
porque quem é mesmo é "não sou"

o homem que diz "tô" não tá
porque ninguém tá quando quer


coitado do homem que cai
no canto de ossanha, traidor

coitado do homem que vai
atrás de mandinga de amor


vai, vai, vai
- não vou

vai, vai, vai
- não vou


vai, vai
- não vou

vai, vai
- não vou

que eu não sou ninguém de ir
em conversa de esquecer
a tristeza de um amor que passou

não, eu só vou se for pra ver
uma estrela aparecer
na manhã de um novo amor...........................
.............
......
............
..amigo senhor, saravá,
xangô me mandou lhe dizer

se é canto de ossanha, não vá
que muito vai se arrepender


pergunte pro seu orixá,
o amor só é bom se doer

pergunte pro seu orixá
o amor só é bom se doer


vai, vai, vai
amar

vai, vai
sofrer


vai, vai, vai
chorar

vai, vai
dizer

que eu não sou ninguém de ir
em conversa de esquecer
a tristeza de um amor que passou

não, eu só vou se for pra ver
uma estrela aparecer
na manhã de um novo amor




(de canto de ossanha, vinicius de moraes)





persegue-me até à exaustão, a que quero ser - são altas as horas da noite, como ondas de vivas marés, quando de mim se apodera em promessas de um futuro qualquer, que é preciso, é preciso, agora, é preciso fazer, é preciso mudar, fazer pelo mundo que acolhe, oferecer em vida, fazer, fazer, é preciso fazer, furando a dor, usando a dor, que assuste, que seja tanto possível, mergulhar mais fundo, saber quem cá dentro, cá onde se é o que faz ser vida, mesmo se as vozes nada perseguem, se não calam o silêncio, se os conselhos nenhuns falam a sós por entre as paredes, se enrolam, ateiam, confundem, se este sentir em mim de mim me enleia, se me povoa portas e arcadas, me é peso de asa que reabre, reacende, repara, eu centro, centro de mim, espiral que ascende sem controlo ou destino em vôo de ser, de formas inexistentes, sítios que não sei, gente que nunca vi(vi), supera-me este sentir, sacode-me de meus próprios ombros, sacode-me o peso, a vida, caminha, caminha, caminha comigo, é preciso fazer, aqui, agora, mesmo se te ouves dentro, se te ouço eu, daqui, sem saberes que fazer, quando chega o depois que é futuro, que caminho, que começo, que partida, que partida, que partida do casulo que te dobra as costas, esse conforto em que te moldas como quem nada mais sabe, que partida do que te não basta, que janela para que mar, que partida da não-vida em ti.











(calmness in aggression, bogdan zwir)









....















ir




do que não sou.

























ser-me




em mim.

domingo, fevereiro 03, 2008

a sós














sem amigo companhia ou criança que comigo percorra a solidão que hoje me fere sem cuidado ou respeito, invento um esquimó de terra distante e desconhecida, como se essa em que vivo esta agora tristeza, para que me ouça, me cale, me chore.


falo-lhe do acordar vazio, do não abrir dos olhos para tentar ainda calar o frio dentro, do procurar depois em todos os lugares um qualquer sinal de acalento, como se não soubesse tão bem como é negro, pintado à mão, devagar, o abandono de quem. em tudo.


conto-lhe dos dias passados escondida em quarto de mim, sem que o saiba ninguém.
das portas trancadas nesta casa que não habito sozinha, mas que não é vida comigo, esta casa onde me fecham caras todo o dia, onde não há música ou partilha, conforto ou um só sorriso que ajude ao passar (d)o medo.



tiredness fuels empty thoughts

i find myself...
disposed


brightness fills empty space

in search of...
inspiration



harder now with higher speed

washing in
on top of me



so i look to my eskimo friend


i look to my eskimo friend


i look to my eskimo friend



when i'm down


down


down



rain it wets muddy roads

i find myself...
exposed


tapping does but irritate

in search of...
destination



harder now with higher speed

washing in
on top of me



so i look to my eskimo friend


i look to my eskimo friend


i look to my eskimo friend




when i'm





d








o












w



















n












.







.








.










.
































digo-lhe, confesso-lhe, que não há tristeza maior que a solidão, por maiores tantas outras dores... não há sentir que me cale como este. que me enmure. me inunde o dia de quietude e sal. eu que tento saber do que é, do que existe, do que somos sem razão de sentir.
assim de triste, não há.


explico-lhe a ele, meu amigo inventado, o tanto tudo que queria um qualquer acalento, um olhar fundo ao que sou, qualquer coisa mais que estas paredes que me não falam, este silêncio que me não ouve, a gente perto que não tenho, não me existe, este longe que não sei preencher só.


vejo as lágrimas que recuso chorar descerem por seu rosto moreno, até sentir nos lábios o gosto de minha própria tristeza, eu escondida na vergonha de me saber assim, sem força, quase sem vida, eu que sei que é vida tanto, que o amor está em tudo o que vêem os olhos, que a paz são os passos que damos em nós, um de cada vez...


mas hoje
hoje
acordei demasiado pesada
de nada
para mo fazer saber.


porque não-outros.
ninguém.
voz nenhuma
ao apertar de uma mão,
a lembrar-me que(m) sou.


e eu não sei viver sem gente perto.



e por isso me lembra, ele mo lembra, da força da água, da força de mim, dos abraços de longe, os abraços dentro de quem nos é sempre - porque há, há mesmo quem seja sempre... -, os sorrisos de minha gente, os cheiros de meu país, tudo o que aqui me não é fora, hoje mais ainda, mas é tanto, tanto dentro.


e eu sei, sei de tudo... sei das vozes dentro, do calor, da luz, das mãos, dos sorrisos...
sei do mar.
sei de tudo.



when i'm down


down


down




when i'm down


down


down




when i'm down


down


down



























e sei-me meu próprio esquimó.









(imagens: eskimo child, de edward s. curtis. fatality e roads which aspire to light, de bogdan zwir)