sexta-feira, março 28, 2008

da imobilidade: "on hold"

(in physical pain)




não me mexo.


a mim própria pus aqui, assim a mim deitei
e agora não consigo retomada a força para voltar.
para fazer frente ao risco imprevisivel e gritante da dor física,
e voltar.


condenada pelo corpo, liberta pela mente, mantenho-me aqui, sem ousar mexer um sopro sequer.


dói(-me).


mesmo.




a parede que olho obrigada é vazia.

o medo, agora, também.

como o é, no fundo, esta dor que me passeia as costas.


por isso sorrio.


fecho os olhos e sorrio.

para que mais sorrisos a este se sigam.
para que se mantenha.
me mantenha.
em verdade.
por mais o que é físico e.


olho à volta, dentro:
esta é a minha casa.
a minha vida.
que construo, eu.
eu.
agora.


o corpo aperta
a saudade dói
mas ainda assim,
ainda assim,
neste momento,
a cada momento,
sentir o que me é força dentro,
o tudo que - lembram-me - construí,
o tudo que sou, tenho, quero, faço,
- o coração a bater diferente mas a bater, ainda assim, a respirar a medo, ainda, mas -,
e dizer
sentir
dizer
eu


- neste momento

este de agora

agora

em que estou,


aceito

e quero



estar

ser

aqui

assim

imobilizada

quieta

presa em mim

livre em mim

a aprender

a viver(-me).

sexta-feira, março 21, 2008

"a cura"









wembley arena, 20.marco.2008:




















foi a medo ainda que ali destinei o dia.
apesar de tudo,
a pesar, tanto, tudo,
decidi-me por mim.
como quem.
e fui.

era muito o sentir de ali estar, eu na noite de tanto que era, eu a ir ouvir lembrancas caseiras naquela cidade estrangeira, estrangeira eu, ali, e no entanto parte, tao parte de tudo aquilo, tao parte de tudo e todos...
em londres, por que razao for, sinto-me sempre como que em casa.

ah minha volta, gente de idades muitas, todas ah volta da minha, como se um so, nos.
e o bom que eh saber-se, sentir-se, ser-se parte de.
em semelhanca.
semelhantes, la.
como sempre na vida, afinal.
por mais que o esquecamos.

as luzes diminuiram e o sentir aumentou. as primeiras notas que soam, e eu a deixar-me ir com elas, para alem de mim, ah espera do que fosse, por maior o medo do que traria o recordar. da dor que, hoje, nao pode senao vir com ele.

antes de mim, o sentir a reconhecer a musica. aquele primeiro "beat", depois, que nem flecha direita a mim. como se nada mais, ninguem mais ali. eu so. com a dor do que.
e os olhos imediatamente - sem aviso ou autorizacao - a encherem-se de agua, sem que eu nada controlasse, eu que tao pouco, porque a vida tanto, tao pouco choro por mim, eu ali de lagrimas nos olhos, sem medo ou vergonha de ninguem, nem sequer de mim, eu que solucava dentro, sentia-me a, mesmo se a lagrima presa pelo que nao sei dizer, sem cair, recusando-se a chorar o que fosse.

ali se aguentou, todo aquele tempo de musica sem palavras, tempo tao longo de choro suspenso.

com a voz de robert, essa voz que me entra tao fundo, me marca tao dentro, me tanto canta o sentir, o desabar do choro nessa unica lagrima. essa so. nenhuma mais. "plainsong". a mesma que tantas, tantas vezes ouco dentro de mim, sem que de lugar algum venha senao dai.

e apercebi-me, veio-me devagar, ao longo da musica, que me libertava. aquela noite, sendo o que, a dizer-me que me libertasse. que a vida eh minha, e uma so. que quem amamos ahs vezes eh quem julgamos ser, nao quem eh de verdade, tao longe, longe do que (nos) foi, hoje.

por mais que reconheca, eu, ainda, as vezes sempre, o tanto que, em determinados gestos, olhares, momentos.
o que eh mais, que eh presente - ou nao -, o de sempre, de todos os dias, de cada dia, nao eh, nao eh ja (n)o que se amou.

quem se amou
nunca
nao
nunca
desta maneira.


"i think it's dark and it looks like rain"
you said
"and the wind is blowing like it's the end of the world"
you said
"and it's so cold
it's like the cold if you were dead"
and then you smiled
for a second

"i think i'm old and i'm feeling pain"
you said
"and it's all running out like it's the end of the world"
you said
"and it's so cold it's like the cold if you were dead"
and then you smiled
for a second

sometimes you make me feel
like i'm living at the edge of the world
like i'm living at the edge of the world
"it's just the way i smile"
you said





















e noto,
noto,
no fim,
que sou eu quem diz.

e eh meu,
foi meu sempre,
para além da partilha,
o sorriso.

o mesmo que agora.
agora.


..




nevertheless.

domingo, março 16, 2008

sangue (d)e sentir

e(m) tanta
tanta
dor










decido a lonjura
de mãos presas
e sentir atado


resolvo mudar-me
dentro e fora
deste olhar molhado
- a dor amordaçada
acorrentada ao passado


dos olhos de quem me soube ser,
nada:
um viver de vida
longínquo e amargurado

como se nada
nada nunca
nós
- maravilha de sentir encarnado


e eu não sei,
não sei mesmo
não sei tanto

- eu não sei como foi que fizeste
para que tudo te fosse apagado




" me,
i'm a part of your circle of friends
and we
notice you don't come around.



me,
i think it all depends
on you
touching ground with us.


but
i quit.
i give up.
- nothing's good enough
for anybody else,
it seems.

and
i quit.
i give up.
- nothing's good enough
for anybody else,
it seems.
and...

and being alone is the...
is the best way to be.
when i'm by myself it's the
best way to be.
when i'm all alone it's the
best way to be.
when i'm by myself
nobody else can say
goodbye
.






e eu
agora
não vou
lutar mais

cedo
finalmente
ao teu silêncio
teu desapego
teu nem saber
que ferir

eu agora
sinto só
a imensa dor
do nada que traz
teu não-cuidar
e(m) injusto sentir




everything is temporary
anyway
.
when the streets are wet
the color slip into the sky.
but i don't know why that means you and i are
- that means you and i....
i quit.
i give up.
- nothing's good enough
for anybody else,
it seems.

but
i quit.
i give up.
- nothing's good enough
for anybody else,
it seems.
and...

and being alone is the...
is the best way to be.
when i'm by myself it's the
best way to be.
when i'm all alone it's the
best way to be.
when i'm by myself
nobody else can say
...


me,
i'm a part of your circle of friends

and we
notice you don't come around.
"
















...























..























.




















quarta-feira, março 12, 2008

the (w)hole of 9 months



















looking heavenward you cannot help but shed a tear... mournful... lonesome... a hole that screams out almost as loudly as the roar of the engines that pass overhead.







Get this widget Track details eSnips Social DNA




this is
the missing man formation, whether flown with the wingman spiraling off into the great beyond, or flown consistently with that awful hole where a buddy should be *














...











missing.











(so much) more





than i






can say.















@-,-'-







* tirado daqui

segunda-feira, março 10, 2008

aeroporto


acordei de um sono de poucos minutos quando o autocarro se aproximava do seu destino intermedio, altas as horas da madrugada, altas como os sonhos do mundo que trago em mim.

entrei no aeroporto com a mala por companhia, a mala grande, essa de cada nova viagem, a mesma que, como eu, carrega desta vez o peso do espaco vazio que a torna, afinal, me tornara tambem, tao mais leve.

sentei-me numa cadeira demasiado perto da porta para que me nao acordasse de arrepio o frio que vinha de fora, da rua, de fora, e por isso, por isso so, olhei em volta com meus olhos de ver, meus olhos de procura, meus olhos seguidores da cor que nao conhecem ainda.

mais longe da porta, como que resguardado, um espaco com quatro cadeiras, onde dormia uma rapariga - talvez lhe chamassem mulher - numa ponta e uma senhora de idade - bonita de idade, pude depois ver de perto - na outra.

aproximei-me sob o olhar curioso e quase inquisidor da senhora mais velha. cheguei perto, escolhi a cadeira que partilhava um braco com a sua, e sorri. o sorriso entre estranhos eh do mais bonito e humano sentir que posso viver. sei-o desde que esse homem que nao conhecia me mostrou a forca da vida, me trouxe a forca minha, sem o saber, com seu sorriso aberto. sem o qual nao sei, eu nao sei que teria feito, se nao teria desistido - eu nao sei onde estaria hoje, que pessoa seria, sequer, sem o sorriso desse homem que nao sabe sequer o que.

por isso sorrio, sempre que posso - e pode-se sempre, no fundo... - a estranhos. porque talvez um dia, quem sabe, salve meu sorriso o viver, acreditar, de alguem.

sorrio sempre.
tento.
mesmo que me nao sorriam de volta.
como a senhora de idade, bonita de idade, e lenco na cabeca.

sento-me a seu lado mesmo assim, e encosto a cabeca ah parede, preparando-me para dar ao sono o tempo que interrompi antes ate de se soltar.

levanto a cabeca quando a ouco falar. eh ela quem mete conversa comigo.
comenta a minha bagagem.
eu respondo, a vontade do sono tao vergonhosamente maior que a da fala.
pausa.
"where are you flying to?"
comeco a sentir que nao eh talvez tempo de sono - sera por acaso que me sentei a seu lado?
"portugal", respondo - minha voz com cheiro de sal soh de sentir meu mar de raiz.
ela madrid.
que viaja muito. inglesa. "londoner". a falar-me de tantas terras onde esteve, gente bonita que conheceu quando sozinha, eu que sim, que as pessoas dao tanta cor a uma terra, lembro e falo e trago-lhe-nos minha africa. meu brasil dentro, tambem. que sim, sozinha vivem-se coisas diferentes, sao outras tambem as viagens, nao estariamos aqui agora, as duas, a partilhar calor (d)e humanidade se sos nao estivessemos. eu so, a maravilhar-me em cada ruga de sua cara, tantas e tantas e mais e mais, linda, ela, linda de vida e idade, so, aqui, neste bocadinho do mundo enorme a que nao hesita entregar-se.

penso, enquanto ela fala, lembro-me de pensar nos acasos, cada bocadinho de dia que nos trouxe a estas duas cadeiras de braco partilhado, nesta partilha de tempo em que falamos como quem sabe o silencio, rimos como quem sabe a dor.

ela levanta-se para ir. demoramos as palavras de encontro e desejo de alegria - que te sejam tao boas as viagens que fazes, pequena enorme mulher, que te seja tudo a viagem de ti...

parte.
encosto a cabeca para tras e sorrio, cheia de partilhar, esquecida do sono.

vejo primeiro a bengala, ao ve-la voltar atras.
"i forgot to say.... what's your name, should we meet again?....."

trocamos nomes.
e eu sei, com ela e por ela, que a maravilha de ser livre para tudo, o que vier e o que nao, ha-de ser-me ainda maior, tao maior que a desilusao...
e eh de novo, de novo quem nao conheco, quem me traz agua na vida, e me rega o coracao.

sábado, março 08, 2008

hoje vivo

(mais ainda)


o caminhar
em certeza
e verdade


de ser mulher.
























.

quinta-feira, março 06, 2008

operação


adormeceram minha mãe.

sem lhe contar história alguma ou segurar sua mão,
fizeram-na dormir por quanto tempo quiseram.

minha mãe é forte:
adormeceu de sorriso nos lábios,
em tremor o coração...

minha mãe é pura:
enquanto lhe abriam a pele,
sonhou com a voz da côr de sua terra,
os olhos daqueles que ficaram,
querendo quase abrir-se a si mesma,
a si mesma consertar, arranjar, curar,
como o faz sempre,
e aos outros,
em sua vida acordada.

ela me ensinou a força de quem é para eles,
quem se esquece de si
porque essas outras lágrimas,
outro precisar,
outro sofrer.

a cada dia,
sem desistir,
minha mãe luta por mim,
por minha força,
meu não perder-me de mim
nos fugidos (a)braços de quem não.

luta para que me (re)encontre em mim
sem esses outros que sabe terem optado
por ser-me dor e nada
– nada –
mais.

luta para que me veja e conheça como o faz ela.
que me olha.
vê.
reconhece.

lembra-me o valor que (lhe) tenho,
abre-me os olhos a quem está,
quem ama,
quem dá.


abre-me os olhos a mim.


ela que me ouve as lágrimas
e as suas cala
como ninguém.



..




minha mãe lembra-me que olhe por mim,
em recusa de muro,
em abrir de janela.

por isso hoje, aqui de longe,
reclamo minha (nova) vida
de olhos e sentir postos nela.


































...








(imagem: mother and child, cathy rositano)

segunda-feira, março 03, 2008

(neste meu) 3 de março

em saudade(s).










peterborough, 30.novembro.07




para além do vazio deste dia distante
injusto
irreal
meu corpo arranha a memória de tudo
as memórias todas
em fúria cega de reavivar-te
ser criança contigo
ver-te ser tudo o que é incerto
pedir-te que faças de tudo isto mentira


(...)


e isto custar-me tanto,
custar-nos tanto,
ser-nos tão fundo a tua morte,
ser tudo tão estúpido,
de repente,
tudo tão sem razão de nenhum sentir....



no pouco que nos sabíamos,
para além do que.






(...)










suspensa.





entre zanga de morte

e certeza de vida.







..











e esta vontade



amputada



de te ouvir rir,








memória ida






em teus olhos






















para sempre




























fechados.























...

















(sendo eu sempre
neste dia de hoje
essa saudade
de (já...) 15 anos,
tempo demais em teu nunca-regresso.
)












(imagem: la muerte de casagemas, pablo picasso)