quinta-feira, março 06, 2008

operação


adormeceram minha mãe.

sem lhe contar história alguma ou segurar sua mão,
fizeram-na dormir por quanto tempo quiseram.

minha mãe é forte:
adormeceu de sorriso nos lábios,
em tremor o coração...

minha mãe é pura:
enquanto lhe abriam a pele,
sonhou com a voz da côr de sua terra,
os olhos daqueles que ficaram,
querendo quase abrir-se a si mesma,
a si mesma consertar, arranjar, curar,
como o faz sempre,
e aos outros,
em sua vida acordada.

ela me ensinou a força de quem é para eles,
quem se esquece de si
porque essas outras lágrimas,
outro precisar,
outro sofrer.

a cada dia,
sem desistir,
minha mãe luta por mim,
por minha força,
meu não perder-me de mim
nos fugidos (a)braços de quem não.

luta para que me (re)encontre em mim
sem esses outros que sabe terem optado
por ser-me dor e nada
– nada –
mais.

luta para que me veja e conheça como o faz ela.
que me olha.
vê.
reconhece.

lembra-me o valor que (lhe) tenho,
abre-me os olhos a quem está,
quem ama,
quem dá.


abre-me os olhos a mim.


ela que me ouve as lágrimas
e as suas cala
como ninguém.



..




minha mãe lembra-me que olhe por mim,
em recusa de muro,
em abrir de janela.

por isso hoje, aqui de longe,
reclamo minha (nova) vida
de olhos e sentir postos nela.


































...








(imagem: mother and child, cathy rositano)

15 comentários:

Ad astra disse...

lindo!!!
linda.
Um beijo terno para ti

un dress disse...

aqui. gestando...









:)beijO

~pi disse...

os olhos quase abertos

os olhos

quase

fechados




~

DoCeu disse...

bóuas, _o_miga!...

(mas ela quer fazer-nos convencer q o coração ñ lhe tremeu... :-P)

Maria Liberdade disse...

As mães marcan-nos e almejamos marcar os nossos.

Stella Nijinsky disse...

Oi nana

Essa imagem sobrenatural que temos das nossas Mães é real,
elas estão mesmo acima
vêm os olhos de quem ficou
são tão resistentes que quase se podem curar a elas mesmas.

A vida está cá para nos mostrar que isso é assim
ainda que a morte
isso é assim

minha Mãe lembra-me que olhe por mim
mesmo que eu fosse demasiado filha
para que pudesse ter olhado por ela.

Já agora, dá notícias dela!

Beijo

Stella

luci disse...

a marca das fontes


.


.


.

Anónimo disse...

que poema tão lindo...é por palavras como estas que me sinto mal quando me zango com a minha mãe :)

Unknown disse...

Sei o que é deixá-la, assim, sem lhe poder segurar a mão... há uns três anos atrás.

Também lhe vi o sorriso nos lábios.
Mas, ainda olhou para trás, olhos nos meus olhos.

Eu em pé, à espera dela.
Ela deitada - volto já!
Também é forte
a minha mãe.
E voltou!
.
.
.
E amanhã, vou vê-la
que já não a vejo
há dias demais.


[BEIJOS, para a filha e para a mãe]

Alberto Oliveira disse...

... se por acaso(?!) alguma coragem tenho para enfrentar alguns reveses da vida (quem não os tem?, ela foi-me transmitida pela minha mãe.

(Comentário -sem a ironia que me caracteriza, de homenagem a todas as mães, a todas as mulheres-de-todos-os-dias, num dia que se estipulou designar pelo "seu dia". E os outros? não são?!)

Post-It disse...

Vivam as mães! Sem dúvida que devo muito à minha.
Um abraço de melhoras :))

Maria Laura disse...

Arrancado de dentro. O texto. As nossas mães são pilares de força na nossa vida.

Graça Pires disse...

São assim as mães... É muito bonito o que escreveste. Um beijo.

tufa tau disse...

podes cantar-lhe de longe uma canção de ninar
um melodia tão pura como amor de mãe
embala-la em abraços trazidos pelo mar
e essa força do mimo sentirá tão bem


beijos

Dalaila disse...

maraca de vida que adormece e acorda