domingo, agosto 12, 2007

on a day like today

penso-te muitas vezes.

sem notar - assim mesmo, sem por isso dar -, chega-me a tua imagem.
vinda por vezes do nada.
vinda sempre de mim.

entristeço-me:
é quase sempre a imagem da doença em ti.
da imobilidade, tristeza, tuas.
da impotência, (essa outra) tristeza, nossas.
de quem.

às vezes dou por mim de volta àquele último quarto de hospital,
onde ao absurdo se chamava medo,
o medo escondia a esperança
e a esperança chorava a vida.

lavávamos os sentidos de nós e de tudo o que não fosses tu,
lavávamo-nos com força de ferida para sermos inteiros,
ali.
como tu já não podias
já não sabias
ser.

olhávamos as molduras sem tempo nenhum
- entre nós e o passado que se queria futuro havia,
há-de haver sempre,
o esvair do sorriso,
o desenhar da dor,
o não-saber quem, como, seremos depois de te (vi)vermos assim.



....






























....




não sei quanto tempo vai durar esta estranheza que umas vezes é luto, outras memória, outras só um confuso não-perceber, ainda, como que um não-aceitar, ainda, ainda, a realidade.
a que.

é-me irreal,
ainda,
tudo.
por mais real a tua paz.


.





passo em londres, por entre sítios de amizade, e sinto, noto que há coisas que mudaram para sempre.
agora lembro-te em londres.
e londres lembra-me de ti.

a baker street - a rua em si, não o seu nome - já não é a rua do sherlock holmes.
a baker street é agora a rua perto do "teu" hospital.
é a rua perto dessa outra, transversal, onde vim apanhar ar, tentar respirar qualquer coisa, quando.
onde me recusei ao fim da esperança, como me recuso agora ao resto, se calhar, recusei aceitar esse fim marcado para a vida, como se me não fizesse sequer sentido a fala daquele homem de pele escura e bonita vestido de roupa clara e vazia, aquelas palavras cruéis, pontiagudas, dilacerantes, de tão certas de si mesmas. como se no recolher o choro pelos outros recolhesse a minha própria dor, eu impotente, eu nada, sentada naquele chão daquele passeio daquela rua, um criminoso cúmplice de tudo com sabor a mentol numa mão, a voz de todos os que ficaram, nessa noite, escolheram ficar, quiseram amar, na outra, naquela rua que dantes, dantes, ia dar à rua do sherlock holmes.
agora não é mais que uma transversal de dor que vai dar ao hospital onde, antes de, deitado nessa (outra) cama de lençóis timbrados, sorrias, fazias piadas, eras tu mesmo, esperando a esperança com o medo sentado ao colo.
e por mais que quiséssemos, que tudo tivéssemos feito para reparti-lo, o peso do teu medo era, será sempre, incompreensível para nós, nós todos que não sabemos o que é o temor
verdadeiro e inesperado
da (im)previsivel morte.

e assim essa palavra se apagou de qualquer conversa.
e é bonito, quase, como mesmo os médicos nos falam sempre de esperança de vida...
quando o que se espera, o que se teme, o que se chora a sós, à noite, no escuro, longe dos olhos e ouvidos dos outros, acima de tudo longe da vergonha de o pensarmos, sabermos, já, dentro, nós... é a morte.

para além dela,
só a vida.

dentro dela,
toda a vida.

depois dela...
nós.

vazios.
irmãos.
contigo.
dentro.
em vida.
nevertheless.

..


sempre.















(e agora, meu missing man, o que eu queria, queria muito, era sorrir-te. agora. confortar-te do que fosse. tratar de ti. ouvir-te a voz, ser tua amiga, como se.
por mais breve o momento.
por maior o sonho.
só porque sim.

agora.)

4 comentários:

Anónimo disse...

Vai ser assim algum tempo, mais para uns, menos para outros. Depois, de mansinho, a raiva, a tristeza, vão transformar-se numa doce e serena companhia, lá, donde não sabemos nada...

xxxxx

M_d_O_M

180º disse...

Força

Sandrinha disse...

Sorri-lhe!
Ele vê...e sorri de volta, de certeza!

@-,--

Anónimo disse...

Fico muda sempre que te leio.
Um beijinho muito grande.
v