terça-feira, março 20, 2007

verdade(s).

eu agora só queria fugir.
pegar em mim, em tudo o que sou, e correr correr correr, correr até não haver mais areia para os pés, correr com tanta força que o vento se visse empurrado a desenhar-me lágrimas de olhos, e que essas lágrimas me furassem a pele, me rasgassem por dentro, me obrigassem todo o corpo a chorar.

eu agora só queria chorar.
chorar, chorar, chorar, chorar e chorar. só isso. não sei que mais liberte este sentir tão confuso, tão cheio de vazio, tão tudo de nada, tão seco por mim. que me não permito. e me não proibo. que vivo, só, e isso é tão pouco, parece tão pouco, tão nada, agora.

eu agora só queria dormir.
fechar os olhos ao mundo, fechar os olhos à dor. dormir para além dos outros, dormir para além de mim. sonhar?... só se o mar. não quero outro sonho que não o mar de mim. tudo o resto passa, tudo o resto vai. tudo o resto é sonho. tudo o resto é só o que não é para sempre.

eu agora só queria não ser.
não existir, por um bocadinho. não ser, não precisar, não saber. queria fundir-me num grito que tocasse o imenso presente de agora, me ensurdecesse, me fizesse não saber de mim, dos outros, de nada.

eu
agora
queria
que não existisse
nunca mais
o nunca mais.




























....









(imagem: despair, de gwendalin qi aranya)

7 comentários:

Anónimo disse...

"Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça"


como te sei.
como me sei.
e eu agora só te queria abraçar.

Rita Coelho disse...

Tristemente lindo.

Um abraço meu com a força do nosso mar

Anónimo disse...

Segue 1 miminho por e-mail...
Chuaquinhos muitos
Tzinha

joaninha disse...

ai ai... ás vezes também me apetece fugir... desligar, por em stand by... mas isso passa ;)

*beijinhos*

Alexandra disse...

Mando-te um beijo enorme para ver se o animo volta a ti...

180º disse...

Muito lindo. Não tenho mais paçavras para o descrever.

Sandrinha disse...

Eu corro contigo, eu choro contigo, eu durmo contigo só para teres um bocadinho de vontade se ser...

@-,--