domingo, março 18, 2007

quotidiano(s).














toco o cobertor.
por debaixo a coberta, por debaixo o lençol, só depois a mão dele. mas sento-me à ponta da cama - não consigo chegar-lhe à mão. toco o cobertor, só – não consigo chegar-lhe à mão.

o tempo pára.
ali, o tempo não deixa passar a vida, não deixa sonhar o que vem. ali o tempo pára, e tudo o queremos, vivemos e damos é só nada.
é espera, só.
enlouquecemos à procura de saber o que esperamos, se isto ou, aquilo ou talvez, e não sabemos – nós não sabemos o que esperar.

há tubos por todo o lado, e o cheiro, o cheiro é tão característico, não de um sítio igual a este, mas este sítio igual a si mesmo, igual a este momento, a este nunca mais que custa a passar, esta verdade que nos faz reclamar, sem o direito, sem um sujeito que venha, saiba, diga. verbos, precisamos de verbos, acção, não é assim? ...... corrói-me por dentro tudo aquilo contra o qual nada posso – dêem-me coisas, dêem-me nadas para pontapear e castigar, como se. falta-me o ar, estou enjoada, socorro, a impotência mete-me nojo, a minha, eu que nada posso contra o sofrimento de, eu que nem sei dizer o que virá amanhã, se lhe devemos sorrir ou pedir que não chegue.


...


não largues a mão, não cedas ao medo
– ajuda o tempo a respirar

respira-o fundo, enconcha, marulha
– cala-te o frio que teima em chegar









....






(imagem: afraid of the dark?, de peter kozikowski)

10 comentários:

Anónimo disse...

Abraço munto quentinho...
Tzinha

joaninha disse...

beijinho :)

Pulsante disse...

O simples tique-taque de um relógio de parede rasgando o silêncio de uma casa vazia, confronta-nos com a nossa imensa fragilidade finita, com a impossibilidade do controle do fundamental – só estamos aptos a controlar o acessório -, com o incomensurável peso da História que se fez antes de nós e da que fará para além de nós.
No entanto, mesmo sendo assim – e assim é – há espaço, razão e oportunidade para continuarmos – sem muita amargura – a desempenhar o papel secundário que a todos nós nos coube.
O labirinto em si mesmo e o seu sentido intrínseco só revela a sua utilidade à saída.

Rita disse...

Beijo muito, muito grande!

Alexandra disse...

Deixo beijo quente...para o frio que teima em vir

Sandrinha disse...

"não largues a mão, não cedas ao medo"

...

a minha mão.

Anónimo disse...

a minha mão está por cima do teu ombro, não sentes?...
um abraço muito, muito forte.
nessa

melena disse...

may the force be with U

Anónimo disse...

E mesmo isso Amiga...o que dizer ao amanha sorrir ou pedir que nao chegue...e um sentimento tao-me familiar! E dura a injustica desta vida, o sofrimento, a nossa impotencia. Mas nao estas so Amiga. Um abraco muito forte. Um coracao cheio de saudades tuas. Ana

Marta disse...

Que fiques de mãos dadas durante muito tempo, e que durante esse acto o tempo que passe seja de ouro.