sexta-feira, fevereiro 05, 2010

"odete"





a sua voz era única.
no timbre marcado de seu viver de tanto, com esse tanto a ser tantas vezes demais, falava com uma segurança rara e incomparável, a mesma com que nos agarrava os braços quando nos olhava fundo e procurava dentro, em nós, a verdade do nosso estar.

há tanta gente que deixamos de ver, tanto sítio onde deixamos de ir depois de nos invadir o tempo-fuga do mundo adulto...
e eu já nem sei há quanto tempo a não via.

lembro-me de falarmos, de falarmos muito ao telefone já depois do regresso a minha casa de mar.
falámos de mim, falámos de si, falámos da vida, e gosto de pensar que a fiz saber que me era muito, como o eram aquelas (demasiado) esporádicas conversas.

depois disso falei dela, pensei-a, mas nunca mais a ouvi falar.

entre verdades sentidas e tempos de ocupado viver perderam-se os amanhãs da visita, e no meio desses dias que chegavam até anteontem perdi a certeza dos seus olhos, a meninice do seu sorriso, a firmeza das suas mãos.
e vejo de repente desaparecer a força de um grupo de mulheres irmãs e mães de si mesmas, irmãs e mães de tantos outros, que se imaginava e sabia indestrutivel, infalivel, inquebravel.
até chegar nova traição nocturna e a arrancar de si mesma, e de nós, para sempre.






..



eu já tinha saudades da odete.



agora vou ter muito mais.






(imagem de "nauman")

terça-feira, junho 23, 2009

porque ausente


deixei-me afastar das palavras.

sem quase o notar, perdida noutros lugares de encontro, partilha e mãos dadas, deixei resumir meu sentir a uma frase, às vezes duas, como se não houvesse um todo mundo de escrever, dentro, a pedir-me liberdade.

volta-se ao que se ama.
abrem-se os braços.
deixa-se entrar.

deixo que as palavras me cheguem às mãos, mas possuam, me possuam para que não pense, não pare, para que escreva até esquecer a vida sem escrita, sem mar de palavras, sem mim.

a elas volto para que me embalem o sentir nesta mudança de tanto que vivo cada dia em certeza de bem.


parto da terra que me adoptou e deu vida, carinho, em anos tantos de crescer.

e volto a casa.











volto ao que amo.
abrem-me os braços.
deixo-me entrar.









(imagem de haleh bryan)

terça-feira, fevereiro 24, 2009

amor de fuga







toda a noite me perseguiu teu cheiro.

entre sonhos de mãos mergulho e vôo,
lembrei quem sou, quem és, quem seremos nunca.

meu corpo estremeceu como se desmaio,
queda,
leveza de um todo ser.





murchei as paredes de tanto as evitar,
os punhos cerrados
os olhos na porta
à espera.


esperei-te ao canto de cada minuto.




fugi de mim
até de mim
baixinho
para chegar a teus braços.




o frio de minha parede cedeu
e perdi o amparo
de qualquer das casas de mim.



não foi a falta do lembrar
a falta do sentir
a falta do saber.

não.






deixei

de sonhar-nos.









(imagem de haleh bryan)

segunda-feira, janeiro 12, 2009

tempo de novo.















acordar cada dia sem o medo de partir.


viver.
em humildade de mar,
teimosia de vento,
força de florir.


ser paz e abraço ao sentir dos outros,
amor e entrega ao que dentro,
em mim.






cambia lo superficial
cambia también lo profundo
cambia el modo de pensar
cambia todo en este mundo


cambia el clima con los años
cambia el pastor su rebaño
y así como todo cambia
que yo cambie no es extraño





ser humilde.

humilde
humilde
humilde



ser humilde.



enfrentar vícios
aceitar braços
arriscar entregas.



abrir portas de fechar.



deixar que olhos sejam mãos
que olhos sejam toque
que olhos sejam mar.






cambia el mas fino brillante
de mano en mano su brillo
cambia el nido el pajarillo
cambia el sentir un amante


cambia el rumbo el caminante
aunque esto le cause daño
y así como todo cambia
que yo cambie no es extraño


cambia
todo cambia

cambia
todo cambia


cambia
todo cambia

cambia
todo cambia





saber que é mudança cada dia.
que é mudança
o tempo escuro

as mãos frias

o amor.









chorar de sentir à pureza dos outros.



dar como quem ama

sempre.



escrever a vida.
escrever-nos.


ser na vida a poesia
que a vida marulha em mim.






cambia el sol en su carrera
cuando la noche subsiste
cambia la planta y se viste
de verde en la primavera


cambia el pelaje la fiera
cambia el cabello el anciano
y así como todo cambia
que yo cambie no es extraño





ser voz de liberdade.

encher o vento de canto
e a cada fase de lua
a cada mar de maré
ser parte do mundo todo
e a mudança do mundo em mim.


caminhar de cabeça erguida
cabelo de mar
e veias de ondas
e sentir.

sentir
sentir
sentir
sentir...



para além de qualquer pe(n)sar.






pero no cambia mi amor
por mas lejo que me encuentre
ni el recuerdo ni el dolor
de mi pueblo y de mi gente


lo que cambió ayer
tendrá que cambiar mañana
así como cambio yo
en esta tierra lejana


cambia
todo cambia

cambia
todo cambia


cambia
todo cambia

cambia
todo cambia




pero no cambia mi amor
por mas lejo que me encuentre
ni el recuerdo ni el dolor
de mi pueblo y de mi gente


y lo que cambió ayer
tendrá que cambiar mañana
así como cambio yo
en esta tierra lejana



cambia
todo cambia

cambia
todo cambia


cambia
todo cambia

cambia
todo cambia








....




para além de janelas (d)e sonhos,
ser a verdade
a cada acordar.

















..










(dias de vida marulhada
a todos vós que.


@-,-'-)









(imagens de ana nicolau, pink sherbet e haleh bryan)


sábado, dezembro 13, 2008

round here









encontro amigos.

reencontro-me
neles.

no que somos
nós.


abro meu olhar
e sou-me eu,
aqui.
sem o medo,
a solidão
- estátuas de água que desenho e habito...


estendo mãos,
encontro abraços.


sorrio fora
e é dentro que me marulha a vida.


em embalo de ternura
e gente de olhos que me dançam mar.
em força
nudez
coragem.




.






partilho meus marulhos com quem me é maré que enche.
e vaza.
e é vida
de sentir.











em tudo a partilha da verdade.

os sorrisos.

as mãos.

os olhos.

as lágrimas de dor imensa que em mim tatuam uma outra vida.
dentro.
em certeza de sangue.

de ser.


sermos
juntos.

em passo de pôr-do-sol
e floresta.
por lagos
e por risos
e por nós

e ser-nos tudo
esse tanto
de dar.


sem pressa.


tão devagar....


um só
nada
a medo.





até à praia nova
desta gente
que me encontra
me encanta
me descobre.
















..


















(e dizem
dizem
que é isso a vida...)






sábado, novembro 08, 2008

perto, em aniversário








" felicidade se acha
é em horinhas de descuido. "


(guimarães rosa)











...







minha mãe amanheceu-me no mar
e plantou-me em terra de amor.



(fazia já tanto tempo que aqui não era este dia,
tantos já os abraços distantes, inventados, adiados...)



tudo o que sou tremeu de vida,
e em cada mão apertada reconheci,
acarinhei,
embalei.

e.



(menina pequena de novo
em sonho e despertar,
fui rosa, ovelha, planeta
- segredo e(m) alma de cativar.)



o sol marulhou-nos o dia,
pintado a memória e riso.


à beira de um lago, em verdade de água e outono,
sorrimos às côres do ser.



e fomos.


somos.


para além de tempestades secretas,
medos escondidos,
tristezas a sós.



somos

este amor de força,

este mar de vida,

este tudo de nós.


















...










(tanto) obrigada, gente de mim...

@-,-'-


segunda-feira, outubro 20, 2008

"ad astra"







assim me chamas de minha concha...









assim me trazes às palavras,
com este presente de tanto
nas asas do sentir,

em que


"se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc., que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à web.

quem recebe o “prémio dardos” e o aceita deve seguir algumas regras:


1. - exibir a distinta imagem;

2. - linkar o blog pelo qual recebeu o prémio;

3. - escolher quinze outros blogs a que entregar o prémio dardos. "





pelo tanto de sentir que me sempre trazem,

o meu obrigada a:


- 8ª edição

- a clareira

- a menina dos olhos de água

- casa de maio

- digit@l pixel

- linha de cabotagem

- lupanar do pensamento

- o farol no vento do norte

- olhares em tons de maresia

- ortografia do olhar

- pequenos nadas

- passages

- stella nijinsky

- tufa tau

- vida de vidro







porque muito
e dentro
há tanto
de tempo.





...