
sempre pensei no meu corpo como algo de completamente exterior ao que sou. literalmente.
o que penso é uma coisa, o que pareço outra.
o que sou é o que fiz de mim, o que exibo o que de mim foi feito.
a cabeça e o coração são de mim, o resto foi-me simplesmente "atribuido".
sim, sempre acreditei nessa tal "insustentável leveza do ser"...
insustentável.
até mudar.
até saber que sou dona de mim
e
do meu corpo.
.
estranhamente, era nisto que pensava enquanto fazia a minha primeira sessão de fisioterapia terça de manhã (para quem não sabe, fracturei um osso do tornozelo há pouco mais de um mês).

...
neste país muita gente se queixa dos impostos serem altos.
são, é um facto.
eu não me queixo muito. por mais que me queixe.
porque as diferenças...
digo-lhes apenas "pelo menos a vossa saúde é à séria (mas acreditem que há excepções!!!) e de graça. em portugal os impostos também são (proporcionalmente... e não!) altos, mas até uma ida ao hospital se paga (normamente os bifes ficam de boca aberta com esta... saúde pública paga?... pois é, camone, "welcome to the portuguese world"... e não queiras ir ao verdadeiro espaço físico de uma ala de urgência num hospital português, ou és capaz de te passar da tola... só eu sei o quanto me choca a mim, e sou portuguesa... :o( ... )".
aqui, bom, a seguir à primeira consulta (de graça) no hospital, com uma médica, quando me enfaixaram o dito pé e me deram as belas canadianas para andar, tive outra consulta (de graça) uma semana depois, já com um fisioterapeuta, para ver como é que o gajo estava e se estava tudo bem com os tendões.
pouco tempo depois, nova consulta (guess what?... claro, de graça!!!), com o mesmo fisioterapeuta, para um "re-check" e para ver o que é que era preciso fazer para ele voltar ao normal, que tipo de fisioterapia, agora que o dito tornozelo já aguenta um bocadinho: é tempo de o re-ensinar a andar, a ter equilíbrio, a ter confiança.
como um bebé, quase...

vá de marcar fisioterapia. 6 semanas, uma vez por semana. sim, tudo, TUDO de graça.
em portugal quando rachei o polegar tive de pagar €2 e qualquer coisa da primeira consulta... e nunca tive niguém a analisar como é que o meu polegar ficou depois disso, se re-aprendeu todos os movimentos ou não. tira-se o gesso e 'tá curada. mas não sem antes pagar um bocadinho mais, pelo tirar do gesso...
...
não gosto quando chego a portugal e alguns dos emigrantes que vão no avião comigo começam a mal-dizer o meu querido país, e a dizer coisas como "bem se vê que já chegámos a portugal!". irrita-me solenemente, mesmo. dá vontade de dizer "então para que é que vieste???".....
mas o que é certo é que, em termos de saúde público, sinto-me muito mais "looked after" aqui do que aí.
e isso entristece-me.
muito.
mas adiante.
a fisioterapia.

depois de breve explicação dos exercícios e por que é que eles são necessários, 1 horinha dos ditos...

10 minutos de bicicleta...

equilibrar-me num pé e no outro, alternadamente.
parecia bêbeda, quando me equilibrava no pé esquerdo...
'tadinho, "got a long way to go"...

manter o equilíbrio para não deixar a tábua tocar no chão.
er....

mais exercícios de equilíbrio, desta vez nas escadas.

para terminar, mais 10 minutos de bicla...

até ao fim.
...
senti-me bem.
quase como uma atleta.
quase determinada a ajudar o meu tornozelo, agora que o meu corpo é parte do que sou, de quem sou.
confesso que o facto de andar a ler o livro do lance armstrong, principalmente dado que estava no capítulo em que o rapaz andava a dar tudo por tudo para vencer a "tour de france", me fez aplicar-me ainda mais.
...
"a mind is a terrible thing to waste".
...
sempre gostei desta frase.
com os últimos acontecimentos
mais o livro do lance
e a sua atitude
e a de tantos outros
que admiro
sem que o saibam
concluo
quase 30 anos depois
do começo
"so is a body".