sexta-feira, setembro 14, 2007

(olh)os que me olham
















os olhos dele são côr de rio quente.
olho lá para dentro
- ouso mergulhar sem que o saiba,
ele,
ou tu,
só eu sozinha no seu mar,
com nenhuma outra permissão para além da certeza
de que me ama e quer perto, dentro -,
e vejo-o, sei-o, menino,
a querer dar-me a mão,
o amor,
a vida.


do nosso estar não restam nem fotografias.
foi assim que escolhemos, sentimos, fizemos.
sem fotografias ou testemunhas, tu e eu, só, sós,
no amor divino e infinito que julgámos, acreditámos,
ser nosso.
o mesmo cuja mortalidade e humanidade te assustou e fez esconder da vida.
como a nós das fotografias, antes...


ainda bem.
porque as fotografias tornariam tudo muito mais difícil,
mais real, mais duro,
agora.
assim é como se não tivéssemos sido senão sonho.


e nem faz mal que tenhas imagens, lembranças a preto e côr e branco, dessa tua outra, primeira vida, por mais que, antes de mim.
de nós.
nem faz mal...



ele tem olhos meninos, côr de verão.
palavras tímidas que me chamam à vida.



e eu não me importo de saber que era mentira, tudo mentira, nunca fomos infinitos, nós, tu e eu. eu não estaria assim com ele, deixando que se sente perto, que se chegue mais, tão mais do que tu, agora e.
porque o nosso (esse) amor acabou.
por mais que - sabe-lo como eu - todo o universo, todo mesmo, estivesse do nosso lado quando.


os olhos dele são verdes.
azuis.
claros

e escuros.





















e o mar não morre se te não ouço a voz.


e o sol não deixa de nascer com o dia.
a cada dia.


tudo,
tudo existe,
respira,
vive,
sem ti.


a vida continua sem nós.

como se.

como tu.

como eu,
agora.


a quem ele faz por olhar dentro,
em azul fundo,
líquido de ternura e futuro.










(imagem: nude, looking over her right shoulder, de amadeo modigliani)

16 comentários:

luci disse...

havia tantas cores quantas as

luzes,

nos teus olhos.

e promessas, que eu lia,

ao fim do dia...


*

un dress disse...

...olhem para ti

todos os dias

outros olhos


que dos teus espreitem

ainda a espreguiçar-se


...virgens...




:) beijO

Mar Arável disse...

A vida é um ciclo de marés

se bem olharmos


Gostei da visita

Stella Nijinsky disse...

Olá,

A ausência de fotografias pode afastar o real, mas fica a mágoa, (re)começo.

Não sei se estou certa.
Gostei muito!
Stella

douglas D. disse...

bonito o seu blog. bonito...

ricardo disse...

:)
*

180º disse...

Lindo poema de amor. Vale sempre apena amar, com ou sem fotografias. Porque o que nos toca mais são as lembranças na nossa mente.

Girstie disse...

Forte, proFundo, belo!

Há uma música do Jeff Buckley que diz: "time takes care of the wound, so i can believe". We all can!

beijinhos

anjobaldio disse...

Belo blog. Modigliani é um dos meus favoritos. Grande anraço.

~pi disse...

tantas cores a dançar nas fotos da alma



...para sempre...

Pulsante disse...

Tu sabes, no entanto, que o olhar desses olhos que te faltam não deixarão de te ver mesmo quando tu mesma fores um olhar de uns olhos que já não estão.
I think you understand me.

Isamar disse...

Gostei muito do teu blog. O mar � uma das minhas paix�es.

Beijinhos

Anónimo disse...

quase chorei com este texto. tocou-me muito a sério.

O Profeta disse...

Tu és um oceano de sentires onde gosto de velejar...



Hoje decidi aprisionar o teu querer
De amor regado com agua pura
No céu há uma estrela que é tua
Na terra há um beijo à tua procura...


Boa semana


Mágico beijo

Ruela disse...

belo, belo, também a escolha de Modigliani.
BJS.

bettips disse...

Fica bem aqui, o olhar oblíquo do pintor de mulheres alongadas. E as tuas palavras cantam! Obrigada por passares na água do meu pequeno rio. Que te sintas bem e tenhas a alegria do êxito. Com trinta anos, há o Mundo! Abç