memórias para um fim final
" Esperança e desespero de alimento
Me servem neste dia em que te espero
E já não sei se quero ou se não quero
Tão longe de razões é o meu tormento.
Mas como usar amor de entendimento?
Daquilo que te peço desespero
Ainda que mo dês - pois o que eu quero
Ninguém o dá senão por um momento.
Mas como és belo, amor, de não durares,
De ser tão breve e fundo o teu engano,
E de eu te possuir sem tu te dares.
Amor perfeito dado a um ser humano:
Também morre o florir de mil pomares
E se quebram as ondas no oceano. "
(sophia)
não posso dizer que te não amo.
mentiria.
e desde que te perdi pela mentira de nós,
da força de nós,
que recuso a mentira.
a passividade.
o abandono.
tudo me lembrará para sempre o amor mais importante,
de entrega
partilha
equilíbrio
universais
- e mesmo estas palavras serem tão pouco para o que tivemos nós...
era assim quase irreal, lembras-te?
ainda te lembras?
não dava para acreditar.....
quase divino.
talvez por isso condenado,
nós sem o sabermos,
meros humanos a quem foi dado tamanho sentir,
que rasgámos
ferimos
assassinámos
como se eterno.
ou nós.
nós que nem de nós mesmos conseguimos cuidar.
nós na cegueira do amor que se sente,
mas não é feito sentir.
eu prisioneira dos teus gestos
acções
palavras
esses espaços do nada que
a pouco e pouco,
de dor alucinante
em solidão dilacerante,
me definharam em mim,
me sugaram o coração de todo o sangue
e nos lançaram ao abandono do vazio.
e tínhamos tudo.
nós tínhamos tudo
para ser
e sorrir
de vida
feliz.
se tivéssemos acreditado.
ficado.
se soubéssemos que quem ama espera
- não trai definitivamente.
que mesmo depois de traído
quem ama não desiste do sempre.
da força.
mas tu.
tu que traiste o amor, a entrega,
o medo da morte e do fim.
tu que és tão sangue dentro
que não sei o que será de mim.
mas não posso.
não posso ficar.
ou esperar.
mesmo se te amo ainda,
com a dor em vida a pedir-te consolo,
tu que curas as feridas de ti
como se não fosse já nada,
eu....
...
a outros me entregarei.
como tu.
serei feliz.
como tu.
mesmo que a ti prove sempre
quem tocar meu corpo nu.
....
(clip extraído de: le fabuleux destin d'amelie poulain, de jean-pierre jeunet)