terça-feira, outubro 30, 2007

esperança (d)e vida










anoitece.











....












é cedo

e anoitece.








....



























(brian wiles, dawn)









há vozes que me chamam e falam mais que a minha língua...



vêm de todos os lados
e são como vidas que me trazem a vida,
me lembram a doçura da humanidade fugaz,
me fazem acreditar que é sempre possível ser-se melhor...



(assim sorrimos de tudo
frente a um arco-íris chovido que invade a cidade cinzenta,
uma lua cheia que respira todo um campo de folhas sonhadas, caídas em côr,
um sol que nu e vermelho mergulha em água e sal de mar...

assim nós.
como quem olha a vida nos olhos e vê para além dela.

..

para além do que.)




aceitar quem dói,
aceitar a ausência,
aceitar escolhas e escolher
escolher
sorrir sobre tudo.

..

sobretudo sorrir.



ser verdadeira ao olhar que procura, deixar que entre nos olhos, por pouco que seja,
que entre, se sente à beira, como se.
deixar-se invadir pelas palavras que tocam,
levam o pensar sem que se pense,
fazem voar de intimidade a desconhecida distância.
hesitar, ainda, na entrega da verdade,
em verdade,
a entrega antes da paz, dentro,
porque não-paz esta serenidade que o não é,
porque não-completa, inteira,
ainda...
mas deixar,
deixar que os olhos.
beber das palavras, saborear-lhes o toque,
em segredo.
deixar que confortem
e possam ser
a vida
que se faz.



acordar a cada dia e sorrir,
sorrir só,
sorrir com,
em alegria de vida.

pela vida.

na vida.





e assim
ser
cada segundo.















...













isto
assim,
neste preto e branco de côr,
vejo eu,
faço por,
quando olho em frente.

comigo,
em mim,
na travessia do presente.

com tudo o que (não) ficou para trás.

..


ainda se sente.










...





assim eu,
no mundo,
em sal de saudade,
vida e verdade.


assim eu,
em mim,
em teimoso renascer
- como quem refaz e relembra
a cada noite
o amanhecer.

































































(imagem de bogdan zwir)





























" os desejos mais puros e ardentes do coração
são sempre realizados. "


(mohandas k. ghandi, in
"a minha vida e as minhas experiências com a verdade")

sexta-feira, outubro 12, 2007

embalo (s)em meu pai

tudo da vida,
então,

ainda
e tanto

dentro.





















(clicar aqui para versão youtube)





(embalo (s)em meu pai com imagens de ana nicolau, IgaNinja, kyle houston cummings, guayasamin, dale wicks, graça morais, peter kozikowski, hau maru e antoine de saint-exupéry
imagens "esperando" e "máscara" de autores desconhecidos
poema "a pequena praça" de sophia de mello breyner andresen, por luis miguel cintra
música de javier navarrete, do filme "el laberinto del fauno")

terça-feira, outubro 09, 2007

do nada: a última dor



" mar adentro, mar adentro,
y en la ingravidez del fondo
donde se cumplen los sueños,
se juntan dos voluntades
para cumplir un deseo.

un beso enciende la vida
con un relámpago y un trueno,
y en una metamorfosis
mi cuerpo no es ya mi cuerpo;
es como penetrar al centro del universo:

el abrazo más pueril,
y el más puro de los besos,
hasta vernos reducidos
en un único deseo:

tu mirada y mi mirada
como un eco repitiendo, sin palabras:
¡más adentro, más adentro!,
hasta el más allá del todo
por la sangre y por los huesos.

pero me despierto siempre
y siempre quiero estar muerto
para seguir con mi boca
enredada en tus cabellos "




(ramón sampedro, por javier bardem)






....







na morte de um (este) amor,
lembro a beleza toda que um dia.
como quem dorme, sonha, ainda.

e acorda de dor e espera,
em olhos por ti abertos.

" peço-vos perdão, o mais humildemente possível,
não por vos deixar
mas por ter ficado tanto tempo. "

(marguerite yourcenar)


....


pela teimosia do cuidar,
sempre.
do lutar contra tudo,
lutar por nós,
quando nós éramos
afinal
só eu.







" Puedo escribir los versos más tristes esta noche.

Escribir, por ejemplo: "La noche está estrellada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos."

El viento de la noche gira en el cielo y canta.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.

En las noches como esta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.

Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.

Oir la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.

Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche esta estrellada y ella no está conmigo.

Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.

Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.

La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.

Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.

De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.

Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.

Porque en noches como esta la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.

Aunque este sea el ultimo dolor que ella me causa,
y estos sean los ultimos versos que yo le escribo. "




(pablo neruda)
















































quero que saibas, agora, em ti, agora que nada mais, que te amei como nunca, antes ou depois.


amei-te como quem é eterno, como quem tem uma só vida, e essa só vida entrega, partilha, vive, funde no que ama.

amei-te por entre os dedos das vozes que nos viram amar, os ventos testemunhas de um amor eterno como o silêncio.
que se quebra, afinal.

amei-te para além de mim, de ti, de nós.

para além da mentira.

amei-te na vida, no sonho, na côr;
fui, quis ser, teu porto de abrigo. teu alívio, eu. tua força. tua paz.

mas afinal.







...








e quero que saibas que te amarei sempre,
para sempre,
mas não mais to direi.

não mais.

e aos poucos também eu esquecerei tudo o que um dia,
e contigo esvaziarei as memórias do nosso futuro,
secarei o amor líquido que me corre ainda nas veias
com a certeza gelada do querer que me já não tens.

andarei pelo mundo sem sonho por companhia,
a noite tão longe da lua,
porque ninguém mais, ninguém mais dormirá na minha sombra.

.


depois, depois de tudo esquecer,
depois de aprender a viver
sem dia ou mar para saber-te feliz,
te amenizar a dor,
amaciar tuas feridas,
lamber tuas asas,
fundir-me contigo na areia de nossos lençóis,
ser água contigo,
ser eterna mesmo com a morte a rondar-nos a vida,
depois os meus olhos serão só meus,
como te são os teus, já.
de com quem os fechas,
em paz e em ti.

também eu te não procurarei.
também eu viverei como se nada,
nós,
nunca
nada.


e hei-de,
como tu,
ser feliz.


hei-de ter amor de toque,
novamente.
mesmo se não.











e não voltarei a ser amor de palavra,
sem a vida.



























não voltarei a viver amor
de dor
assim.









































...

































(eterno
sempre
este querer muito,
querer mesmo,
querer

que sejas muito
e tão
feliz.

com tudo o que te é paz
força
alívio
em doce cativar.


dentro.)














(imagens de sascha hüttenhain e haleh bryan)

segunda-feira, outubro 08, 2007

for good. (y)our own.



















és como um dia de chuva cuja vinda não antecipo.



convenço-me da vida ao sol, por maiores as nuvens que insistem lembrar-me o fim do verão, o fim da promessa, da verdade, de nós, e depois tu vens e choves sobre o que vivo
- choves sobre o que podíamos ter sido nós, o que fomos um dia, sem respeito ou cuidado nenhum pelo meu sentir - apanhas-me desprevenida e ainda me culpas por o não esperar. por esperar mais de ti, eu, ainda.

até quando?....



"não sei".




não sabes, tu.
não sabes nada, e lavas as tuas mãos com a mesma facilidade com que dizes viver a paz sem mim, com que violas uma e outra e tantas vezes os sítios e horas de um amor em tempos vivo e divino, que amaste também, que também tu quiseste eterno,
a mesma facilidade com que me não procuras no silêncio ou na noite, sabendo, tu, o que, eu, longe,
a mesma com que me abandonaste tantas vezes à beira do sussurro da morte no corpo que amo e de que tenho tantas saudades que choro, ainda e sempre, de noite e de dia, tanto ultimamente, tu sem o saberes ou quereres sequer,
porque tu
e a tua vida
e o teu sentir
e a falta de
e.


.....



e eu desisto.

eu que não queria,
lutei mesmo quando não sabia que lutava,
ainda
- eu
desisto
de vez.


for good.


esperando ainda que venhas, uma última vez, pela importância toda que me tem, que preciso, tanto, tanto, que sejas tu a.
por ti.
acima de tudo,
por ti.
tanto, tanto e tanto,
sempre.

pelo passado,
a importância,
o tempo "perdido" com,
a responsabilidade que não esqueço, eu
- espero-te ainda na desistência de nós.






















.....























(" dear leonard.
to look life in the face, always, to look life in the face and to know it for what it is.
at last to know it, to love it for what it is, and then, to put it away.
leonard,
always the years between us,
always
the years.

always
the love.

always
the hours. ")


















(" is it cruel or kind
not to speak my mind
and to lie to you
rather than hurt you

well, i'll confess all of my sins
after several large gins
but still i'll hide from you,
hide what's inside from you

and alarm bells ring
when you say your heart still sings
when you're with me
oh won't you please forgive me
- i no longer hear the music


and all the memories of the pubs
and the clubs
and the drugs
and the tubs
we shared together
will stay with me forever

but all the highs and the lows
and the to's and the fro's
- they left me dizzy
oh won't you please forgive me:
i no longer hear the music


well i no longer hear the music
- when the lights go out
love goes cold in the shades of doubt
the strange face in my mind - it's all too clear

music when the lights come on
the girl i thought i knew has gone
- with her my heart, it disappeared

well, i no longer hear the music



all the memories of the fights
and the nights
under blue lights
all the kites we flew together
- i thought they'd fly forever

but all the highs and the lows
and the to's and the fro's
- they left me dizzy
won't you forgive me:
i no longer hear the music
well, i no longer hear the music




i no longer hear the music
- when the lights go out
love goes cold in the shades of doubt
the strange face in my mind - it's all too clear

music when the lights come on
the girl i thought i knew has gone
- with her my heart, it disappeared

well i no longer hear the music


- i no longer hear the music... ")























(que saudades de quando o tempo
ele próprio
era criança...)




























(imagens de ana nicolau
- bairro alto, set.07
- comporta, set.07)






























("you cannot find peace by avoiding life, leonard.")

sábado, outubro 06, 2007

ondas (d)e marulhos na escrita de mim









tenho um caderno, ainda, hei-de ter sempre, onde escrevo quando me inundam tanto os sentires que não posso segurá-los dentro,
e assim os (re)vivo na escrita, como quem liberta fantasmas, sacode a dor dos ombros, recebe em si mesma sons e silêncios de vida.



às vezes sem caderno ou papel,
sem caneta ou,
noto um escrever constante.
- escreve-se sempre
dentro de mim.


..


são muitas as noites, às vezes tardes, em que me sento a esta mesa,
puxada pelas palavras desse caderno ou por outros

mesmos
sentires ainda não escritos
e aqui deposito o que me vai dentro,
às vezes de forma tão violenta que me sangram quase os dedos,
outras tão de mansinho que podia chorar.
como se,
como num,
como no
nu
caderno.


escrevo neste espaço como quem se senta em frente ao mar e lhe oferece o sentir,
lhe dá o choro a ouvir,
se ri,
sorri,
a medo,
de vida
com ele.


leio as ondas que me chegam à praia como quem colhe conchas,
uma a uma,
devagar,
lágrimas como_vidas no rosto e nas mãos,
abismada pelas tantas cores em que lhe adivinham e reforçam vontades,
suspiram dizeres escondidos,
relembram segredos de vida.


.




por isso te agradeço,
a ti,
por tudo o que disseste e me fizeste sentir.


e por isto...







“é um prémio especial para mulheres que, na sua escrita, mostram uma preocupação pelo mundo à sua volta e ainda conseguem dar um pouco de si e dos seus sentimentos e com isso tornar mais leve a vida dos outros.
este prémio foi feito para mulheres, mães e profissionais que espalham a palavra de uma forma emotiva e cativante.
que nos falam da guerra mas também do amor”.




porque escrever é só o que mais dentro sou,
muito mais
às
tantas
vezes
do que o que falo,
digo,
mostro
- e está em ti a leveza das palavras que lês.

por me mostrares, também tu, a partilha,
essa benção que descubro dentro
e me faz descobrir tudo o que.





me descobre, segura.




...




a todos vocês
que aqui vêm,
me tornam leve,
e a mim mesma devolvem em ondas de palavras,
quando o escuro e a dor lutam por roubar-me à escrita,
o meu
tanto
obrigada.

quinta-feira, outubro 04, 2007


Free Burma!

" carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de goya


não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.

é possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.

um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.

e é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. tudo é possível, ainda quando
lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer uma delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.

um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim, amaram o seu
semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente à secular justiça,
para que os liquidasse com suma piedade e sem efusão de sangue.

por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anónimamente quanto haviam vivido,
ou as suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.

às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de uma classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.

houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de deus.
estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. mas isto nada é, meus filhos,
apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadeia de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.

acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.

é isto o que mais importa - essa alegria.

acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez
alguém está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.

que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão-de ser em vão. confesso que
muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.

serão ou não em vão? mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?

nenhum juízo final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam “amanhã”.

e, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é só nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram. "

(jorge de sena)

quarta-feira, outubro 03, 2007

eyes wide open














" burma is ruled by one of the worst military dictatorships in the world. last month buddhist monks and nuns began marching and chanting prayers to call for democracy. the protests spread and hundreds of thousands of burmese people joined in, but they've been brutally attacked by the military regime.

i just signed a petition calling on burma's powerful ally china and the UN security council to step in and pressure burma's rulers to stop the killing. the petition has exploded to over 500,000 signatures in a few days and is being advertised in newspapers around the world, delivered to the UN security council, and broadcast to the burmese people by radio. we're trying to get to 1 million signatures this week, please sign below and tell everyone! "


demos voz a quem a não tem.
aqui.













(imagem: guernica, de pablo picasso)