the homeless face. ou face the homeless.

quando trabalho no "late shift", vejo muito de londres que a torna o que é, que nem por isso vem nos guias turísticos ou nos guias de viagem.
passo a mulher gorda do metro, sentada num dos bancos da plataforma de "oxford circus". não sei como chegou até ali - não acredito que tenha tirado bilhete -, como não sei para onde irá, ou deixará de ir, quando o metro fechar.
olho-a sem que me veja, a cabeça baixa, pesada de sono e loucura, ou álcool, o que seja que a livra de estar viva na única vida que tem.
sim, é preta.
como em demasiados países deste arrogante hemisfério em que vivemos, também aqui "os pretos" estão na mó de baixo, a ter que trabalhar o triplo por nem um quinto do salário de outros, a fazer os trabalhos que ninguém mais quer fazer. como se eles quisessem...
ela dorme.
quero que sonhe com uma vida melhor, mas não será maior a dor quando acordar?...
o metro chega.
ela levanta a cabeça, devagar, como plasticina que custa a moldar até ter uma forma diferente.
olha. vê. repara. tudo num segundo, tudo muito devagar.
abre a mão e pede esmola, sem dizer uma única palavra. olho-a já de dentro do metro, que entretanto fecha as portas. a mão aberta, ainda, como no princípio, para ninguém.
com a outra mão, o metro a começar a avançar à sua frente, faz sinal para que ele siga. como se fosse, pudesse ser ela a dar essa ordem de nada.
avançamos.
ou não.
é ela que recua, recua, recua, até sair da nossa vista. da nossa vida.

"so how can you tell me you're lonely
and say for you the sun won't shine?
let me take you by the hand and guide you through the streets of london
- i'll show you something that'll make you change your mind"