domingo, julho 10, 2005

o fim da vida humana a 6 paragens de distância

nunca tinha estado na terra do terror.
nunca tinha estado numa cidade onde o som das ambulâncias é constante, ao longe e ao perto, até ao fim do dia.
onde os carros da polícia aceleram de maneira irreal, quase (quase? eu não a conhecia senão de lá...) à filme, para chegarem mais rápido aos que precisam, uma constante corrida contra o tempo e a irrealidade, todo o dia, até que abandonei essa cidade atingida pela estupidez da matança injusta, cobarde e cega.
aquela cidade que, corajosa, se recusou e recusa a condenar determinada fé, só porque uns quantos, demasiados, que matam indiscriminadamente, se mascaram e escondem atrás dessa mesma fé. numa bandeira do reino unido, posta numa das estações de metro atingida e violada nesse dia que quereríamos, mas não podemos, esquecer, lia-se "jewish, muslim, christian... - we are all londoners".
...
tudo naquele dia me lembrava o que não me fazia sentido nenhum, o que não conseguia entender.
por mais afastada da dor da morte, por mais longe cá dentro, porque pensá-lo era demasiado dificil, demasiado desumano para ser admitido, demasiado ilógico para fazer sentido, perseguiam-me de longe as sirenes duma cidade em alvoroço, unida no choque face ao expectável inesperado.
perto, o silêncio e a inexpressiva expressão de quem não foi ensinado a reagir ao inaceitável.

só à noite aceitei começar a aperceber-me do que se tinha passado, a recusar no entanto, sempre, desde a manhã, o medo que talvez fosse esperado e aceitável, mas que não admito que me estrague a vida.

aos poucos, agora, ainda, aceito que podia ter sido eu.

a 6 estações de metro de distância de edgware road, fui mandada sair da carruagem onde estava, depois de nos ter sido anunciado, fechados nesse mesmo imobilizado espaço, que havia "relatórios não anunciados de duas explosões no centro de londres". é quase irreal ver agora as imagens na televisão, e pensar que era àquele horror e pânico que ele se referia. pensar que era tudo aquilo que acontecia a umas estações de mim. estações onde estive, já. que não serão nunca as mesmas, depois disto. edgware road deixa de ser o destino escrito na carruagem da frente do metro que apanho todos os dias para o centro de londres para passar a ser a memória do que jamais se apagará da nossa memória. por exemplo.

....

por agora é só o que quero dizer.

porque não sei mais.
porque é duro admitir, escrever, reviver tudo o que foi o que não devia ter sido.

obrigada por escutarem.
obrigada pela força que me deu a vossa preocupação.
em londres nunca estou só.
ou fraca.

obrigada.

1 comentário:

Anónimo disse...

:'o(
abraço forte, mana!
Rb